Tokyo Ghost pega várias questões da atualidade, transporta-as para 2089 e as eleva à enésima potência. A graphic novel aborda, sempre com muita acidez, assuntos como a destruição da natureza, a ganância das grandes corporações e, principalmente, o vício em tecnologia. Na história, a maior parte da população mundial espanta o tédio e a falta de perspectivas usando drogas tecnológicas, que enchem a cabeça das pessoas com feeds, vídeos e anúncios repletos de bizarrices.

Vida simples em Tóquio
O casal de protagonistas de Tokyo Ghost é formado por Led Dent e Debbie Decay. Ele é um “delegado” truculento e completamente viciado em Tec; ela passou a vida inteira longe das drogas e, apesar de ser uma ótima lutadora, acompanha Led em suas missões principalmente para que ele não perca totalmente o controle. Isso é relativo, já que o cara costuma cometer todo tipo de atrocidade.
O principal objetivo de Debbie é levar uma vida mais simples ao lado de Led, longe de qualquer modernidade. Isso só seria possível em Tóquio, já que a cidade se tornou uma espécie de santuário, onde a natureza foi preservada, equipamentos elétricos não funcionam e os habitantes vivem de acordo com os costumes dos antigos samurais. Apesar da esperança de Debbie, a mudança não é uma tarefa simples. Led precisa superar seu vício e escapar das garras do patrão, o poderoso Flak, que manda em Los Angeles (onde a história se passa) e quer expandir seu domínio para outros territórios.

Estética cyber punk
Com uma estética cyber punk, Tokyo Ghost é extremamente crítica e mira em diversos alvos, sendo os principais, obviamente, os gigantes de tecnologia da internet e as redes sociais. Mas não faltam bordoadas à idiotização das pessoas, aos líderes populistas e à futilidade das classes mais abastadas.
“O problema de deixar o povo escolher seu líder, é que a decisão tende pro psicopata que for mais seguro de si, por mais anta que ele seja.”
Os personagens são muito bons. Debbie é uma protagonista incrível, e Led é um homem fragmentado, que precisa combater seus vários demônios internos. Um dos antagonistas é o excêntrico Davey Trauma, que pode ser considerado um Inspetor Bugiganga do mal e consegue se infiltrar em qualquer sistema computacional.
A arte de Sean Murphy também é excelente, principalmente nas cenas de ação, que são de tirar o fôlego.

Uma HQ para maiores de 18
Eu gostei demais da leitura e recomendo pra quem se interessa por distopias e/ou cyber punk. Mas deixo o aviso que Tokyo Ghost é uma graphic novel adulta e bem pesada. Tem muita violência, nudez, sexo, palavrões e algumas cenas completamente grotescas. Ainda assim, por mais contraditório que pareça, a principal mensagem da obra é bastante positiva, e diz respeito a desenvolver o autoconhecimento e valorizar as coisas simples da vida.
“Nossas vidas têm significado, mesmo que só para nós e para quem amamos. Mesmo que não exista nada mais que isso.”
A edição caprichada da DarkSide Books reúne os dez volumes de Tokyo Ghost, que foram lançados nos Estados Unidos pela Image Comics entre 2015 e 2016. A edição tem como extras esboços, capas alternativas e um trecho do roteiro em inglês.

TOKYO GHOST
Autores: Rick Remender (roteiro), Sean Murphy (arte) e Matt Hollingsworth
Tradução: Érico Assis
Editora: DarkSide Books
Páginas: 272
Onde comprar: Amazon | DarkSide Books
*Livro recebido através da parceria com a DarkSide Books.

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.
3 comentários em “Resenha | Tokyo Ghost, de Rick Remender, Sean Murphy e Matt Hollingsworth”