Bartleby, o escrivão
Autor: Herman Melville
Tradução: A. B. Pinheiro de Lemos
Editora: José Olympio
Páginas: 96
Onde comprar: Amazon (disponível também no Kindle Unlimited)
A sinopse de Bartleby, o escrivão pode parecer pouco atraente para o leitor que entra em contato com a obra pela primeira vez. Falando bem superficialmente, a novela de Herman Melville é sobre um jovem escriturário que, sem nenhuma explicação, para de obedecer todas as ordens que recebe. Ele sempre expõe suas negativas com a frase:
“Preferia não fazê-lo.”
Mas por baixo dessa trama simples, há um texto intrigante, que dá margem a diferentes interpretações.
Publicada anonimamente em 1853, a novela é narrada pelo antigo patrão de Bartleby, que relembra a época em que o contratara para trabalhar em seu escritório. O chefe é quem mais sofre com a atitude do seu funcionário (que, no começo, era prestativo e eficiente), mas também é o único que se empenha para tentar entender os motivos da mudança de comportamento do rapaz.
Sem dar spoiler, posso dizer que no fim da novela há uma explicação para as constantes recusas de Bartleby, e ela tem relação com a sensibilidade do personagem. Mas a postura do escrivão, aos olhos de diferentes leitores, já ganhou inúmeros significados.

Há quem defenda que Bartleby, o escrivão é uma crítica ao capitalismo (o subtítulo da novela, que a editora José Olympio optou por omitir é Uma história de Wall Street) e à alienação do trabalho (a rotina de Bartleby consistia basicamente em copiar à mão longos documentos).
Outros leitores veem o texto de Melville como uma crítica à forma como a sociedade tem dificuldade em aceitar quem ousa pensar diferente.
O curioso é que, na maioria dessas interpretações, Bartleby deixa de ser visto como um personagem apático e se torna um símbolo de independência e rebeldia. Ao dizer “Preferia não fazê-lo” (“I would prefer not to”, no original), o escrivão faz valer sua vontade e precisa arcar com as consequências de dizer “Não” quando todos dizem “Sim”.

O norte-americano Herman Melville (1819-1891) nunca foi reconhecido com um grande escritor enquanto estava vivo, mas não parece equivocado dizer que, com Bartleby, o escrivão, ele antecipou em várias décadas o estilo de um autor como, por exemplo, Franz Kafka.
A apresentação dessa edição foi escrita por Jorge Luís Borges e nela o mestre argentino crava:
“Eu diria que a obra de Kafka projeta sobre Bartleby uma curiosa luz posterior.”
E ainda:
“Bartleby já define um gênero que Franz Kafka reinventaria e aprofundaria a partir de 1919: o das fantasias de comportamento e sentimento ou, como agora lamentavelmente se diz, psicológicas.”
A partir de 1920, aproximadamente, os textos de Herman Melville foram redescobertos e hoje ele é considerado um dos gigantes da literatura mundial. Bartleby, o escrivão é uma de suas obras mais conhecidas e, provavelmente, é a segunda mais importante. Considerando que essa novela é superada “apenas” pelo romance Moby Dick, já dá pra ter uma ideia da importância e da qualidade desse livro.
AVALIAÇÃO
→ Fotos: Lucas Furlan
Republicou isso em Memórias ao Vento.
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Tenho interesse em ler esse livro, já está na minha lista de leituras!
Ótima resenha!
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Leia sim, Danielle. O livro é ótimo!
Obrigado pelo comentário! 🙂
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