Em outubro, mês do Halloween, a Netflix disponibilizou em seu catálogo diversos títulos voltados ao terror, mas nenhum recebeu mais elogios do que A maldição da residência Hill. A repercussão positiva é mais do que justa: a série é muito boa!
Produzida pela própria Netflix e dirigida por Mike Flanegan (que também escreveu, editou e foi produtor executivo), A maldição da residência Hill é uma adaptação do romance A assombração da casa da colina, de Shirley Jackson, publicado em 1959. Bem, talvez “adaptação” não seja o melhor termo… Flanegan tomou várias liberdades em relação à obra original e gosta de dizer que a série é um “remix” do livro.

A maldição da residência Hill narra as desventuras da família Crain (o casal Hugh e Olivia, e seus filhos Steven, Shirley, Theodora, Luke e Nell) em dois momentos simultaneamente: no começo dos anos 90, quando eles se mudaram para a tal casa, e nos dias atuais.
A passagem da família Crain pela residência Hill deveria ser breve — eles morariam lá enquanto Hugh reformasse a casa, para que pudesse vendê-la posteriormente. Mas esse período se estendeu muito além do esperado: a antiga mansão tinha problemas estruturais inexplicáveis e… era mal assombrada. A estadia dos Crain na casa terminou com uma grande tragédia, que Hugh nunca explicou com clareza para os filhos e gerou muitos traumas e distanciamento.
Quase trinta anos depois, uma nova tragédia se abate sobre eles. A família Crain precisa se reaproximar e enfrentar vários fantasmas do passado — em todos os sentidos que a palavra “fantasmas” pode ter.
Embora seja classificada como uma série de terror, A maldição da residência Hill também pode ser vista como um drama familiar com elementos sobrenaturais. Os sustos estão lá e são muitos — uma cena em particular, durante uma discussão entre Shirley e Theodora, quase me fez enfartar — mas eles nunca são gratuitos. Os relatos de pessoas passando mal e tendo crises de ansiedade enquanto assistiam à série me pareceram um tanto exagerados, mas isso não tira os méritos da produção da Netflix.
A construção dos personagens é muito bem feita. Cada um dos primeiros episódios é focado num dos membros da família Crain; dessa forma, nós percebemos como a residência Hill agiu sobre cada um deles, entendemos os adultos que se tornaram e nos afeiçoamos a eles.
A direção, o roteiro e a edição também são excelentes. A forma como o passado e o presente são costurados na narrativa, às vezes se completando, às vezes se sobrepondo, é impressionante — o tempo é um elemento importantíssimo na história. O já famoso episódio 6, intitulado Duas tempestades, tem cenas intensas de confronto familiar e planos-sequência de cair o queixo.
O elenco também dá conta do recado, tanto o adulto (com destaque para Carla Gugino no papel de Olivia) quanto o infantil. Só não entendi o porquê da escalação de dois atores para dar vida a Hugh: Henry Thomas vive o pai da família Crain no passado e, Timothy Hutton, no presente. Os dois são bons, mas têm idades próximas na vida real e são muito diferentes fisicamente. Uma maquiagem bem feita daria melhores resultados.

A maldição da residência Hill é uma série que vale a pena ser vista, seja você um fã de terror ou não. Os ganchos entre um episódio e outro e as revelações na trama vão praticamente te obrigar a fazer uma maratona. O final é bem conclusivo e uma segunda temporada não se faz necessária (pelo menos não envolvendo a família Crain).
Um último detalhe pra você prestar ainda mais atenção enquanto estiver assistindo: muitas cenas têm a presença quase subliminar de fantasmas. Nessas cenas, eles não interagem com os personagens, apenas aparecem rapidamente, marcando presença e observando as conversas e atitudes deles. Saber que os espíritos estão ali, sem que os personagens os vejam, faz gelar a espinha…
O site IMDb reuniu todos os fantasmas no vídeo abaixo, mas eu recomendo que você só veja depois de assistir a série:
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