Resenha | Cárcere privado, de Margarida Patriota

Cárcere privado começa com uma atitude extrema: a narradora — uma tradutora, ex-funcionária pública federal, com ótima condição financeira — sequestra uma mulher, Mara Dália, a quem culpa por quase tudo de ruim que já aconteceu em sua vida. O leitor acompanha o período que a protagonista mantém a vítima presa em seu apartamento, na Asa Sul de Brasília.

Uma narradora desequilibrada

A premissa pode até parecer simples, mas o livro de Margarida Patriota oferece um jogo intrincado. A narradora, cujo nome nunca é revelado, demonstra ser uma pessoa amargurada, insegura e nem um pouco confiável. Ela conta como é o seu relacionamento com os vizinhos do prédio e relembra momentos traumáticos que enfrentou, como a perda do emprego público, a traição do marido e a influência negativa de sua rival, mas… até onde o relato dela verdadeiro?

Sobre Mara Dália, pouco sabemos. Ela passa a maior parte do tempo amordaçada e desacordada, e sua fisionomia não é descrita. As informações que temos dela são apenas aquelas transmitidas pela narradora, que, obviamente, está desequilibrada.

A escritora Margarida Patriota (Reprodução).

Durante toda a leitura, ficamos na expectativa de saber se o rapto vai ser descoberto ou não, e até onde irá a vingança da protagonista. Mas engana-se quem pensa que Cárcere privado é apenas um livro de suspense. Margarida Patriota expõe os extremos que existem em Brasília, uma cidade com pessoas provenientes de vários lugares e com muita desigualdade social.

Na minha opinião, o grande destaque da obra é a prosa da autora. Margarida Patriota é um escritora experiente, com pleno domínio da linguagem e um vocabulário riquíssimo. O texto exige atenção e é aberto a diferentes interpretações.

Humor e ironia

Por outro lado, não gostei tanto do desfecho. Não pelo final ser completamente aberto (não espere explicações), mas por ele quebrar o ritmo e mudar muito o tom do romance. Cárcere privado tem um pouco de humor e ironia (por exemplo, na maneira como os devaneios da narradora são interrompidos a todo momento pelos vizinhos), mas o desfecho absurdo, quase kafkiano, me deu a impressão de não combinar tanto com o restante da obra.

Apesar disso, gostei do livro. Tenho minha própria teoria sobre a narradora — que pode ser diferente da sua — e pretendo reler Cárcere privado daqui a algum tempo pra ver se continuo com a mesma interpretação.

CÁRCERE PRIVADO
Autora:
Margarida Patriota
Editora:
7 Letras
Páginas:
180
Onde comprar:
Amazon 

*Livro recebido através da parceria com a Oasys Cultural.


Postado por Lucas Furlan

É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.

3 comentários em “Resenha | Cárcere privado, de Margarida Patriota

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