NOITES SIMULTÂNEAS
Autor: Maurício Melo Júnior
Editora: Bagaço
Páginas: 176
Avaliação: / Bom
Onde comprar: site da Editora Bagaço
*Livro recebido através da parceria com a Oasys Cultural.
Noites simultâneas, primeiro romance do pernambucano Maurício Melo Júnior, teve uma gestação lenta. O autor começou a escrevê-lo em 1988, mas não ficou satisfeito com o resultado. A obra foi deixada de lado, sendo retomada e finalizada mais de vinte anos depois. Acredito que essa distância temporal tenha sido fundamental para o livro, já que o personagem principal precisa aprender a amadurecer, envelhecer e seguir em frente, depois de ter conhecido de perto o lado mais terrível da ditadura militar. O passar dos anos permitiu que o autor pudesse desenvolver seu texto com um maior distanciamento.
O moço
O nome do protagonista de Noites simultâneas jamais é mencionado. No início do livro, ele é identificado como “o moço”, um rapaz que sai do interior para estudar medicina na capital. Lá, ele se apaixona por uma estudante de sociologia, “a moça”, e entra para o movimento contrário aos militares do qual ela faz parte.
Com o passar do tempo, à medida que a repressão aumenta, “o moço” se torna cada vez mais radical. Quando a organização se desfaz, o casal segue caminhos diferentes e ele decide entrar para a luta armada. Não demora pra que ele seja preso e torturado.
Como seguir em frente?
O período passado na prisão compõe a segunda parte de Noites simultâneas, quando “o moço” se torna “o prisioneiro”. São páginas densas, pesadas e tristes.
Quando o protagonista deixa o cárcere, tem início a última e mais longa parte do romance. Com cicatrizes físicas e emocionais, o protagonista precisa, na medida do possível, seguir em frente com a vida, enquanto reflete sobre os erros e acertos de sua juventude.
Ele passa a ser apresentado sob outras alcunhas (“o escriturário”, “o bancário”) e tem novos relacionamentos, mas não consegue deixar de imaginar como seria sua vida ao lado “da moça”. Será que ela ainda estaria viva? Será que um dia eles iriam se reencontrar?

Apesar de Noites simultâneas ser seu primeiro romance, Maurício Melo Júnior é um escritor veterano. Ele é jornalista, crítico literário, e já publicou contos, livros infantojuvenis e coletâneas de novelas e crônicas. Seu cuidado na escolha das palavras e na construção do texto é evidente, e ele transita com muito talento entre a narração em terceira pessoa (usada para contar a jornada do personagem principal) e em primeira pessoa (quando o próprio protagonista faz observações sobre os acontecimentos de sua vida).
Um leitura importante
Mesmo com suas qualidades, eu preferiria que as informações sobre os personagens fossem mais concretas e menos vagas — mas isso é apenas meu gosto pessoal. Entendo, porém, que a opção do autor ajuda a definir as diferentes fases da vida do “moço”, em contraposição, por exemplo, ao seu mentor, que é sempre chamado de “o velho camarada”.
O desfecho do livro é agridoce. Não é necessário concordar com as conclusões do protagonista, mas elas são perfeitamente verossímeis.
A leitura de livros como Noites simultâneas é muito importante nos dias atuais, quando tantas pessoas relativizam — ou negam — as atrocidades cometidas durante o regime militar.
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