Resenha | Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár

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Os meninos da rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Tradução: Paulo Rónai
Editora: Companhia das letras
Páginas: 272
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O mundo das crianças não é bobo e nem simples. Ele é épico e grandioso. Foi isso que aprendi depois de ler o clássico Os meninos da rua Paulo, do escritor húngaro Ferenc Molnár. O livro está de volta às livrarias numa nova edição da Companhia das Letras.

Publicado originalmente em 1907, Os meninos da rua Paulo tem uma trama razoavelmente simples: entre uma aula e outra, um grupo de amigos precisa defender o terreno baldio (um grund, em húngaro) onde brincam,  já que um bando rival pretende invadir o território e tomar posse dele. A narrativa se passa em Budapeste, na década de 1880, quando a existência desses terrenos vazios se tornava cada vez mais rara, devido ao crescimento imobiliário na capital da Hungria.

Apesar de ter sido escrita num país isolado do mundo ocidental, principalmente por seu idioma, a obra se tornou uma das mais conhecidas da literatura infanto-juvenil mundial. Isso porque Ferenc Molnár trata de temas universais, como amizade, orgulho, coragem, honra, traição e amadurecimento.

Os leitores que ainda são pequenos se identificam com os personagens, enquanto os que já cresceram se lembram, inevitavelmente, dos amigos que tiveram na infância e dos lugares onde costumavam brincar. Alguns estudiosos acreditam que Molnár usou suas próprias memórias para escrever o livro e, em dois momentos, ele se refere aos meninos da rua Paulo como “nós”.

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Da esquerda para a direita: o escritor Ferenc Molnár; o tradutor Paulo Rónai; e a edição de 2005 da Cosac Naify.

Ferenc Molnár expressa com perfeição a relação das crianças com o grund. Aquele terreno era a parte mais importante do mundo deles, e é chamado ao longo do texto de “pátria” e “império”.

O leitor adulto pode achar graça da gravidade com que os garotos cuidam de seus estatutos e de sua hierarquia militar; afinal, eles são crianças e apenas refletem suas visões infantis sobre as convenções dos homens e mulheres. Mas os meninos levam suas regras a sério. As leis criadas por eles devem ser seguidas; se for necessário, a coragem e a honra devem ser defendidas com a própria vida.

Falando assim, pode parecer que o livro é careta, mas não é verdade. Os personagens são adoráveis e durante a batalha decisiva (que é descrita de forma impressionante) você vai se pegar torcendo muito por eles.

A edição lançada agora pela Companhia das Letras utiliza a tradução consagrada de Paulo Rónai, que já tinha sido usada por outras editoras – a última a publicá-la fora a Cosac Naify, em 2005. Ao contrário do que possa aparentar pela capa, o livro não é uma adaptação em quadrinhos e traz o texto integral de Molnár.

A tradução de Paulo Rónai (que também era húngaro e veio para o Brasil fugindo do nazismo) é de 1952. Por isso, crianças e leitores mais jovens podem estranhar algumas palavras que caíram em desuso, além da enxurrada de mesóclises e ênclises, mas isso não prejudica a leitura de forma alguma. Outro ponto positivo é a explicação nas notas de rodapé sobre características da Hungria e sobre a pronúncia correta dos nomes. Afinal, os meninos da rua Paulo se chamam, por exemplo, Csele, Csónakos, Geréb, Boka e Nemecsek. Esses dois últimos personagens são incríveis!

Um aviso: Rónai solta no prefácio alguns spoilers decisivos da trama. Se não quiser saber o que acontece, não leia nenhum dos textos complementares do livro antes de finalizar a leitura da história.

Os meninos da rua Paulo é um livro que deve ser lido por crianças de todas as idades, mesmo por aquelas que já se tornaram adultas. Seu desfecho é surpreendente e pode não agradar a todos, mas é perfeitamente aceitável no processo de amadurecimento dos personagens – e, é claro, dos leitores.

AVALIAÇÃO

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Imagens extraídas da internet.

7 comentários em “Resenha | Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár

    1. Eu não sei dizer sobre as edições mais antigas, mas provavelmente as únicas diferenças são os textos complementares. A tradução de Paulo Rónai é a mesma tanto na edição da Cosac quanto na da Companhia das Letras.

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