Padre Sérgio
Autor: Liev Tolstói
Tradução: Beatriz Morabito
Editora: Cosac Naify
Páginas: 96
Nas últimas décadas de sua vida, o escritor russo Liev Tolstói (1828-1910) se tornou um grande crítico da Igreja Ortodoxa. Em sua opinião, os ritos e dogmas faziam com que sacerdotes e fiéis se afastassem da verdadeira essência do cristianismo. Essa linha de pensamento foi exposta por Tolstói em diversos textos, dos quais Padre Sérgio é um dos melhores exemplos.
Do exército ao monastério
Com pouco mais de 60 páginas, a novela se passa em 1840 e tem como protagonista o jovem e impetuoso militar Stiepán Kassátski. Orgulhoso e cheio de ambição, ele parece destinado a uma carreira brilhante no exército. Ao mesmo tempo, Stiepán está em plena ascensão social, graças ao seu noivado com a Condessa Karotkôva.
Faltando um mês para o casamento, sua futura esposa revela que tinha sido amante do tsar Nikolai Pávlovitch. Stiepán fica duplamente transtornado: sua noiva tinha se entregado justamente ao imperador, de quem ele era próximo e por quem tinha verdadeira adoração.
O militar toma então uma decisão radical: abandona o exército, rompe o noivado, doa seus bens para a irmã e entra para um monastério, passando a dedicar sua vida à religião.
Sim, eu também acho uma atitude muito extrema, um pouco forçada talvez, mas é assim que a história começa. Tolstói narra então a longa vida religiosa de Stiepán Kassátski, que passa a atender pelo nome de Padre Sérgio.

Luta contra o orgulho e o pecado
No decorrer da narrativa, algumas situações se repetem com o protagonista: sua juventude e beleza são usadas para atrair fiéis e ele é assediado frequentemente por mulheres. Com isso, Sérgio vive numa luta constante para não ceder ao orgulho e ao impulso sexual.
Durante a leitura, é fácil perceber que a realização do padre não é plena, e o leitor imagina que, na realidade, ele nunca possuiu vocação religiosa. Por outro lado, também é visível o quanto Sérgio se esforça para seguir firme na fé. Sem dúvida, o personagem tem algo especial; em dado momento, até milagres são atribuídos a ele.
A jornada de Sérgio é tortuosa, e Tolstói a descreve para expôr sua opinião pessoal sobre qual seria a melhor forma de servir a Deus: através da humildade, da mansidão e da caridade com os pobres e doentes, mesmo que fora da religião institucionalizada. Devido às suas opiniões contrárias à Igreja Ortodoxa, o escritor foi excomungado em 1901.

Ótima porta de entrada para a obra de Tolstói
Mesmo tendo como inspiração a vida de diversos santos cristãos, Padre Sérgio pode incomodar leitores muito religiosos e… ortodoxos. É preciso dizer, porém, que o escritor foi sutil e delicado; ele não cede espaço ao sarcasmo e nem à grosseria em nenhum momento.
Por outro lado, a misoginia de Tolstói incomoda bastante. Praticamente todas as mulheres que aparecem no livro são retratadas como lascivas e dadas ao pecado. Com o tratamento que o autor reserva ao sexo feminino no livro, é curioso que seja uma mulher quem mostre ao protagonista o caminho para a plenitude espiritual.
Sobre essa edição da Cosac Naify, não há o que reclamar. O livro fez parte da coleção Prosa do Mundo, possui capa dura e tem como apêndices textos de Samuel Titan Jr. e Boris Schnaidermann, além de uma carta onde o próprio Tolstói defende sua opinião sobre a religião ortodoxa. A tradução de Beatriz Morabito também ficou excelente; a leitura é muito rápida, mesmo com um tema tão complicado.
Apesar da misoginia e de algum exagero nas atitudes do protagonista, Padre Sérgio é uma ótima porta de entrada para a obra do autor russo. Tolstói é considerado unanimemente como um dos maiores escritores da literatura universal, e seu estilo é uma verdadeira aula de escrita. Pena que, com o fim da Cosac Naify, esse livrinho vem sendo vendido a preço de ouro. Vamos torcer pra que outra editora o relance logo!
→ Fotos: Lucas Furlan
Bem interessante esse livro e sua resenha ficou ótima, confesso que se olhasse para ele não leria, mas quem sabe.
Abraços
https://sussurrandosonhos.blogspot.com.br/
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Valeu, Jhenny!
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Olá! Não é o tipo de livro que eu leio, mas achei bem interessante. Achei a decisão dele bem extrema também, mas quem somos nós para criticar né?haha Adorei.
Beijinhos, Jenni.
sinopsedoslivrosjenni.blogspot.com
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Não é?
E abandonar tudo foi só a primeira decisão extrema… ele toma outras no decorrer do livro!
Valeu, Jenni!
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Pelo que percebi tem bastante nomes complicados rs,vendo a capa acho que não me chamaria atenção pra lê mais pelo conteúdo eu leria sim! Gosto de lê livros que falem de religião,aliás leio qualquer gênero desde que a história seja interessante! Abraço,ótima resenha como sempre 😉
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