A gruta de Calipso
Autor: Celso Gomes
Editora: Macabéa
Páginas: 284
Onde comprar: Livraria da Travessa
A resenha de hoje é sobre A gruta de Calipso, romance do escritor carioca Celso Gomes. O livro foi publicado pela editora Macabéa e foi enviado para mim pela agência literária Oasys Cultural.
Eu preciso ser sincero com os leitores desse blog, por isso vou direto ao ponto: por vários motivos, a leitura de A gruta de Calipso não funcionou pra mim.
O ponto de partida da história é um fato real: em 1939, o navio alemão Windhuk partiu para a África do Sul levando cerca de 250 pessoas. Durante o trajeto, a Inglaterra declarou guerra contra a Alemanha de Hitler; temendo ser atacado, o capitão do navio mudou a rota da embarcação para o Brasil, que ainda estava neutro em relação ao conflito.
Mas, em 1942, o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, e toda a tripulação do Windhuk foi presa em campos de concentração em Guaratinguetá e Pindamonhangaba, onde ficou por três anos.
O começo de A gruta de Calipso é promissor, já que Celso Gomes apresenta na primeira parte do livro um grupo de amigos – todos com raízes judaicas – e faz com que eles embarquem no Windhuk para fugir do nazismo. Antes que fosse tomada a decisão de direcionar o navio para o Brasil, esses amigos resolvem seguir para o nosso país por conta própria; pra isso, eles embarcam escondidos num escaler e chegam à costa brasileira remando.
É meio forçado, mas tudo bem. Entretanto, é aí que começam os problemas do livro.

A chegada dos amigos ao Brasil encerra a primeira parte do livro (são três no total). Mas o início da segunda parte narra uma “nova” chegada de um deles ao Brasil. Trata-se do médico Jardel Grynzpan, que sobrevive a um naufrágio e é resgatado em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.
Essa passagem é tão brusca que, sem brincadeira, cheguei a pensar que o meu exemplar estava com algumas páginas faltando. Mais pra frente, há uma explicação sobre o que Jardel estava fazendo no barco que afundou, mas ela é bem superficial.
Por ser alemão, o médico é proibido de sair de Arraial do Cabo, embora não seja colocado na prisão. Assim, resta ao leitor acompanhar a rotina de Jardel em seu novo país, que consiste, basicamente, em nadar, beber cachaça, fumar e conversar (ele tem um vocabulário bem rico de palavras em português, por sinal).
Ah, ele também se envolve com duas mulheres adúlteras, que gostam de passear de madrugada e não costumam usar calcinha. Sim. São quase trezentas páginas disso.
Talvez seja alguma alegoria, alguma metáfora, mas eu deixei passar.
Mas também incomoda bastante o fato de os outros personagens do início simplesmente desaparecerem. Do Windhuk mal se fala, e os campos de concentração brasileiros (que são citados na sinopse e na apresentação do livro) são mencionados em uma única frase.
É perceptível a erudição de Celso Gomes. Jardel tem conversas e reflete sobre filosofia, religião e literatura, e a própria trajetória do personagem tem paralelos com a mitológica jornada de Odisseu (ou Ulisses) em seu retorno para Ítaca, após a guerra de Troia. Segundo a Odisseia, de Homero, uma das paradas de Odisseu em sua longa volta para casa foi na paradisíaca gruta da ninfa Calipso. O herói precisou ser muito forte para resistir aos encantos dela, que havia se apaixonado por ele.
A saga de Jardel, entretanto, é arrastada em diversos momentos, e o tamanho de A gruta de Calipso só piora essa condição. Fica a impressão que faltou o trabalho de um editor dizendo: “reduza isso”, “foque naquilo”, “trabalhe mais neste trecho”…
Aliás, eu não sei como funciona o processo de publicação da editora Macabéa (não confundir com a Macabéa Edições), mas o livro físico em si deixou a desejar. O texto tem alguns erros básicos de digitação e espaçamento, algumas folhas têm borrões, e a narrativa acaba exatamente na última página, reforçando o receio de que algum trecho tenha ficado de fora por acidente. Por outro lado, a folha com as páginas 207 e 208 foi impressa duas vezes.
Eu fico muito chateado quando tenho que resenhar um livro do qual não gostei, ainda mais quando o recebi por cortesia e quando é de um autor brasileiro. Mas repito: preciso ser sincero com os leitores do blog.
AVALIAÇÃO
→ Fotos: Lucas Furlan
Por isso quando disser que é bom seus leitores vão acreditar e procurar pela sua indicação.
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Exatamente, Paula. Muito obrigado pelo comentário!
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