Resenha | Felicidade conjugal, de Lev Tolstói

Felicidade conjugal
Autor: Lev Tolstói
Tradução: Boris Schnaiderman
Editora: 34
Páginas: 128
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Qual é o caminho para a felicidade num casamento? O amor permanece sempre o mesmo ou se modifica com o passar do tempo? Essas duas questões são centrais na novela Felicidade conjugal, publicada por Lev Tolstói em 1859.

Mária e Sierguiéi

Felicidade conjugal é dividido em duas partes, que são narradas por Mária Aleksandrôvna. Na primeira metade, Mária (uma rica jovem de 17 anos que acabou de perder os pais) descreve seu processo de descoberta do amor, ao se apaixonar – e ser correspondida – por Sierguiéi Mikháilitch, um homem vinte anos mais velho que era o responsável por administrar suas propriedades.

Na segunda parte do livro, Mária e Sierguiéi estão casados e felizes, até que as diferenças que existem entre eles ganham força e começam a prejudicar a relação do casal. Mária quer viver na cidade e frequentar a corte, onde sua beleza e charme se destacam, enquanto Sierguiéi quer levar uma vida simples e pacata no campo.

Apesar de continuarem casados, surge um abismo entre eles. Mária e Sierguiéi se amaram, sem dúvida; mas o que aconteceu com esse amor com o passar do tempo?

A essa altura, o leitor espera que Felicidade conjugal se torne uma história de traição, ao melhor estilo Madame Bovary (que fora lançado alguns anos antes), mas Tolstói toma um rumo diferente.

O escritor russo Lev Tolstói (1828-1910).

As transformações do amor

Não posso contar muito para não entregar o final, mas, basicamente, o autor russo defende que o amor entre um casal passa por inúmeras transformações, até se tornar um sentimento muito diferente do “amor romântico” da juventude. Ele se transformaria num misto de amizade e gratidão, e reconhecer ou não essa transformação é o que determinaria a felicidade dentro de um casamento com o passar dos anos.

Concordando ou não com essa tese de Tolstói, é preciso reconhecer que ela é aceitável no caso de Mária e Sierguiéi – que, cá entre nós, formam um casal bem sem sal nem açúcar.

Dos dois, Mária é a mais interessante. Chega a incomodar a forma como ela coloca Sierguiéi num pedestal na primeira parte do livro, porém a narradora de Felicidade conjugal tem uma personalidade forte. É ela quem dá o passo decisivo para o início do noivado entre eles, e Tolstói faz com que ela desafie o marido em vários momentos, dizendo frases como:

Ah! Então esse é o poder do marido – pensei. – Ofender e humilhar uma mulher sem nenhuma culpa. Nisso é que consistem os direitos do marido, mas eu não me submeterei a eles.

Ou ainda:

Eu queria movimento, e não uma fluência tranquila da vida. Queria inquietação, perigos e autossacrifício em prol do sentimento. Havia em mim um excesso de força, que não encontrava lugar em nossa vida sossegada.

Em alguns momentos, a acomodação e o conformismo dos personagens me incomodaram um pouco. Ainda assim, a forma delicada como Tolstói expõe os sentimentos de Mária faz com que a leitura de Felicidade conjugal seja muito válida.

Com pouco mais de 30 anos e antes de escrever seus principais trabalhos, Tolstói já tinha o estilo clássico que o transformaria num dos maiores prosadores da história. Conhecer suas obras é fundamental pra quem gosta de literatura, mesmo que não se concorde totalmente com as ideias defendidas por ele.

Contracapa da edição publicada pela Editora 34.

AVALIAÇÃO

3-estrelas-2

Fotos: Lucas Furlan, exceto o retrato de Tolstói (extraído da internet).

4 comentários em “Resenha | Felicidade conjugal, de Lev Tolstói

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