No final do ano passado vi um meme que mostrava uma foto do elenco de The Office acompanhada da legenda: “Muito obrigado a todas as pessoas que me ajudaram a passar por 2020”. Me identifiquei na hora. Assisti a série no último ano e ela garantiu muitas risadas nesse período tão difícil.
Eu sei que muita gente que começa a assistir The Office não passa da primeira temporada. Realmente, os episódios iniciais exigem um pouco de paciência do espectador: as piadas são longas e os personagens chegam a ser chatos. Mas quando a série entra nos trilhos, já a partir da segunda temporada, ela fica absurdamente boa.
Um “mockumentary”
Exibida originalmente entre 2005 e 2013, The Office foi filmada como um documentário. Por isso, os personagens olham para a câmera, gravam depoimentos e quase não têm privacidade. Existe até um termo em inglês para designar essa proposta de “falso documentário”: mockumentary. Exemplos famosos são os filmes Isto é Spinal Tap e O que fazemos nas sombras, além de séries como Modern Family e Parks & Recreation (criada pelos mesmos produtores de The Office).
Nós acompanhamos o dia a dia da Dunder Mifflin, a pequena filial de uma empresa de papel situada em Scranton, na Pensilvânia — curiosamente, a cidade natal de Joe Biden. Entre o grupo muito peculiar de empregados, quatro assumem o protagonismo da série: o assistente do gerente regional Dwight (Rainn Wilson), o vendedor Jim (John Krasinski), a recepcionista Pam (Jenna Fischer) e, claro, o gerente regional Michael Scott (Steve Carell).
Todos transformam seus personagens em figuras cativantes, mas nenhum se destaca mais do que Carell. Sua atuação como o chefe do escritório não pode ser definida com outro adjetivo que não seja genial. Mérito também dos roteiristas, que transformam o personagem insuportável da primeira temporada no grande responsável pelo sucesso da série.
Michael Scott nunca deixa de ser um sujeito sem noção, inconveniente, um tanto incompetente e um profissional do assédio moral. Mas ele também vai se revelando o dono de um coração enorme, tão solitário que enxerga seus subordinados como sua família. E que, de uma maneira torta, é sempre bem intencionado.
Politicamente incorreto
Algumas pessoas dizem não gostar de The Office por conta de suas piadas politicamente incorretas, mas é preciso perceber que sempre que a série faz graça com negros, gays ou mulheres, ela acontece principalmente através da visão distorcida do Michael. Sempre que ele tem alguma atitude racista, por exemplo, o alvo da piada não são os negros, mas o racismo. Através dele e de outros personagens (como o contador Kevin, que tem quase a mentalidade de uma criança), o roteiro expõe o racismo, a misoginia e a homofobia da sociedade americana com muito bom humor e sarcasmo.
E o mais engraçado é que, quanto mais politicamente correto o Michael tenta ser, mais ele reforça estereótipos e piora a situação.
Minha série de comédia favorita
A importância de Steve Carell para The Office é tão grande que a série penou para se recuperar depois que ele deixou o elenco, no final da sétima temporada. Depois de uma oitava temporada bem fraca, The Office corrigiu o rumo na nona temporada e teve um final perfeito.
Ao terminar o último e emocionante episódio, é impressionante o vazio que fica. Instantaneamente, a gente já começa a sentir saudade daqueles malucos, que no fundo, são pessoas extremamente comuns. Tanto é que, eu juro, já recomecei a assistir.
Por muito tempo eu considerei Friends a minha sitcom favorita. Afinal, eu assisti na minha adolescência e acompanhei a maior parte dos episódios “em tempo real”. Mas hoje, se me perguntassem qual a minha série de comédia favorita, eu responderia The Office sem hesitar.
Muito obrigado aos funcionários da Dunder Mifflin pela companhia, pelas risadas e por tantos momentos inesquecíveis.
THE OFFICE
Criação: Greg Daniels (baseado na série inglesa de Ricky Gervais e Stephen Merchant)
Elenco: Steve Carell, Rainn Wilson, Jenna Fischer, John Krasinski, B. J. Novak, Ed Helms
Temporadas: 9 (2005-2013)
Onde assistir: Prime Video

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.