O alienista (presente em 50 contos de Machado de Assis)
Autor: Machado de Assis
Editora: Companhia das letras
Páginas: 43 (conto) e 496 (livro)
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Nos últimos dias fiquei sem acesso à internet, e tanto o blog quanto as redes sociais do Valeu, Gutenberg! ficaram inativos. Felizmente, o problema foi resolvido hoje, bem a tempo de permitir uma postagem especial em comemoração pelos 178 anos do nascimento de Machado de Assis (o maior gênio da literatura brasileira nasceu no dia 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro). O texto desta quarta-feira é uma resenha sobre o conto O alienista, uma de suas obras mais famosas – e sarcásticas.
Um texto crítico, irônico e engraçado
O alienista foi publicado em capítulos entre 1881 e 1882 na revista A estação, e, posteriormente, foi incluído na coletânea Papéis avulsos. Ele também está presente no livro 50 contos de Machado de Assis, organizado pelo professor inglês John Gledson e editado pela Companhia das Letras, no qual me baseei para escrever esta resenha.
Entendo que muitos estudantes, e leitores em geral, tenham certa resistência em ler a obra de Machado de Assis. Afinal, ele viveu no século XIX, seu vocabulário é complexo, seus textos possuem citações em latim, e, ainda por cima, ele é, sem dúvida, um gênio (e não são poucos os que associam a genialidade à chatice). Mas o que esses leitores talvez não saibam, é que Machado de Assis é muito, mas muito engraçado. E O alienista é um ótimo exemplo.
O narrador do conto é uma espécie de historiador que descreve o período de funcionamento da “Casa Verde”, um hospício idealizado e dirigido pelo médico Simão Bacamarte, que fora construído na Vila de Itaguaí alguns anos antes. A fim de analisar como a loucura funcionava na mente humana, Bacamarte tinha sido autorizado pela Câmara de Vereadores a internar qualquer cidadão que, segundo o entendimento do médico, apresentasse sinais de insanidade. Mas o doutor era rigoroso em seus diagnósticos e, logo, 4/5 da população estavam sob seus cuidados.
Os alvos de Machado
O texto de O alienista é extremamente satírico, e a ironia de Machado de Assis é dirigida a vários alvos. Através de Simão Bacamarte e seus métodos arbitrários, ele critica quem se acha, literalmente, o dono da razão. Mas os alvos preferidos do autor são a classe política e aqueles que anseiam pelo poder.
A Câmara de Itaguaí é formada por vereadores fracos e covardes, que fecham os olhos para os critérios duvidosos do médico, apenas para manter a fama e as verbas que a “Casa Verde” leva para a vila.
A ambição pelo poder é criticada através da figura do barbeiro Porfírio. Devido à inércia das autoridades, ele lidera um movimento popular (batizado ridiculamente de “Revolta da Canjica”) que exige o fechamento da “Casa Verde”. Quando se dá conta da quantidade de seguidores que conseguiu reunir, Porfírio decide ignorar o hospício de Simão Bacamarte, preferindo destituir a Câmara de Vereadores e se autoproclamando, ainda que brevemente, “o Protetor da vila em nome de Sua Majestade e do povo”.

O conceito de loucura
A opinião do médico vai mudando ao longo do texto e, em dado momento, ele conclui que os loucos são aqueles que não possuem nenhuma falha de caráter. Por isso, ele recolhe para a “Casa Verde” todos os cidadãos que são honestos e bons. Com essa situação, Machado de Assis aproveita para destilar seu pessimismo, ainda que com bom humor. Por exemplo: Bacamarte “cura” os homens que são simples e modestos (ou seja, loucos) dando a eles roupas novas, anéis de brilhante e cargos importantes. O único vereador honesto de Itaguaí é curado de sua loucura (a honestidade) quando ganha uma herança compartilhada e, graças a um testamento ambíguo, tem a oportunidade de enganar os outros herdeiros e ficar com a fortuna só para si.
Ou seja: todo mundo teria algum defeito, que só precisaria do estímulo certo para vir à tona.
Com o avanço de seus estudos sobre a loucura, não demora para que Simão Bacamarte comece a questionar se ele próprio não é maluco. Sua conclusão é óbvia para o leitor desde a primeira página, mas a forma como ele chega a essa conclusão é inesperada.
Se você nunca leu nada de Machado de Assis (ou teve apenas algumas experiências traumáticas na escola), dê uma nova chance a ele. Se você ainda não tem disposição para ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba ou Dom Casmurro, comece com O Alienista – algumas editoras lançaram o conto em volumes individuais. Tenho certeza que você vai se surpreender e ainda dar muitas risadas.
AVALIAÇÃO
→ Fotos: Lucas Furlan, exceto imagem Machado de Assis (extraída da internet).
Sou fã de Machado de Assis, apesar de linguagem rebuscada do estilo de época, Romantismo e Realismo não tive traumas ao ler algumas de suas obras =D . Li Dom Casmurro 2 vezes e me convenci que a Capitu não traiu o Bentinho, isso não é nenhum feminismo =D . Assisti no cinema e li Memórias Póstumas de Brás Cubas, entre outras obras. Com certeza um gênio da nossa Literatura, com seu jeito crítico único e humor ácido, e uma cacteristica marcante em suas obras, o apoderamento das mulheres… Tudo de bom!!! E ao vencedor batatas!!!
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Oi, Patrícia!
Adorei seu comentário!
Realmente Machado de Assis foi um escritor único, estando muito a frente do seu tempo! Também sou fã dele!
Obs.: eu também acho que a Capitu não traiu o Bentinho, mas ainda não tenho certeza rsrsrs
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Obrigada Lucas!! Sobre a Capitu, você caiu nas garras do Machado, a dúvida =D…Mas na segunda vez que li tive a certeza que ela não traiu. Até mais!!
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Pois é… Vou ler mais uma vez kkkkk
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Recentemente (31/03/2022) assisti no Rio de Janeiro, Teatro das Artes (Barra da Tijuca), a encenação de “O Alienista”. Gostei tanto que não me incomodaria em repetir a ida ao teatro para assistir novamente. Mas percebi que muitas pessoas saíram do teatro sem entender nada ou parte do que se tratava o texto de Machado de Assis. Obrigada por sua resenha clara e de fácil entendimento. Recomendarei.
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