A julgar pelo estilo musical e pelo fim trágico do Joy Division, eu jamais poderia imaginar que um livro sobre a banda pudesse ser engraçado. Mas a biografia Joy Division — Unknown Pleasures, escrita por um membro fundador da banda, o baixista Peter Hook, é hilária.
O Joy Division (inicialmente chamado Warsaw) foi formado em 1976, em Manchester, Inglaterra, por Hook e pelo guitarrista Bernard Sumner, seu amigo de adolescência. O time ficou completo com a entrada do vocalista Ian Curtis e do baterista Stephen Morris.
A música da banda tinha uma atmosfera ao mesmo tempo agressiva e melancólica, realçada pelas letras e pela performance de Curtis. O vocalista era epilético e costumava ter convulsões durante os shows.
Em 1980, pouco antes do lançamento de Closer, o segundo disco da banda, e na véspera da viagem para a primeira turnê nos Estados Unidos, Ian Curtis se suicidou — aos 23 anos. O Joy Division chegou ao fim, mas passou a ser cultuado nos anos seguintes (o U2, por exemplo, nunca escondeu o quanto foi influenciado pelo grupo). Os membros remanescentes, com o acréscimo da tecladista Gillian Gilbert, se transformaram no New Order e conquistaram sucesso mundial, misturando rock e música eletrônica.
E sim, acredite se quiser: mesmo com essa trajetória difícil, a biografia do grupo é muito engraçada.
Peter Hook narra a história da banda como se estivesse conversando com um amigo, num tom informal e bem-humorado. Durante a leitura, me senti como se estivesse acompanhando o Joy Division bem de perto: Hook descreve os ensaios, as brigas, os shows (tanto os consagradores quanto os fracassados), as gravações e as brincadeiras de mau gosto feitas entre aqueles rapazes de vinte e poucos anos.
Unknown Pleasures (que também é o nome do primeiro LP da banda, de 1979) ainda apresenta a discografia (incluindo discos piratas), a lista completa de shows, galeria de fotos, comentários “faixa por faixa” dos dois discos de estúdio do grupo e até uma simpática dedicatória em português. A Editora Seoman lançou duas edições, em capa comum e capa dura.

Apesar do humor, o baixista não foge dos temas delicados, como as acusações (falsas, mas não totalmente injustificáveis) de que os integrantes seriam simpatizantes do nazismo, a doença e o suicídio de Ian Curtis, e a incapacidade da banda de perceber que o vocalista estava com problemas.
O retrato que Peter Hook apresenta de Curtis é bem diferente da imagem que se popularizou. O “poeta atormentado” está lá, mas também o amigo divertido e zoeiro, que amava música e que ralou bastante pra que a banda fosse reconhecida.
Joy Division — Unknown Pleasures é um livro excelente, até mesmo pra quem conhece muito pouco sobre o grupo. Foi uma das melhores leituras do ano e entrou pra minha lista de biografias musicais preferidas.
JOY DIVISION – UNKNOWN PLEASURES
Autor: Peter Hook
Tradução: Martha Angel e Humberto Moura Neto
Editora: Seoman
Páginas: 378
Onde comprar: Amazon | Grupo Editorial Pensamento
Livro recebido através da parceria com a editora.

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.