É normal cometer alguns exageros quando vamos fazer alguma coisa pela primeira vez. Pesar a mão no sal, por exemplo, na hora de cozinhar um prato diferente. Ou querer usar todas as cores disponíveis ao entrar em uma aula de pintura. Em Ictus: O Prisioneiro Sem Nome, seu livro de estreia, Marcelo Marçal também exagera na quantidade de elementos presentes na trama.
O enredo envolve um advogado brasileiro, o pós-pandemia, uma big tech vilanesca, organizações misteriosas, segredos militares e alegorias religiosas — tudo isso numa escala global.
Ictus se passa em 2027, quando a pandemia está razoavelmente controlada, embora o vírus ainda circule. Uma empresa de tecnologia, a SafeLife, se tornou poderosa e influente graças ao desenvolvimento do Hope, um sensor capaz de identificar quem está com o vírus e que é usado em todo o planeta.
Márcio, o protagonista, é um advogado que é escolhido para defender um homem preso por homicídio, mas que supostamente é inocente. Seu julgamento ocorreu na esfera militar e foi cheio de falhas processuais. Até a SafeLife tem interesse no caso, mas por quê?

O principal problema de uma trama com tantos elementos como essa, é que muitos deles não são desenvolvidos de maneira adequada. Isso não é exclusividade de Ictus: O Prisioneiro Sem Nome. Este ano li outras distopias de autores iniciantes que, por mais que apresentassem boas ideias, tropeçavam na escala grandiosa do enredo. Isso pode causar problemas de verossimilhança na construção de personagens e, principalmente, na solução de alguns conflitos, que são resolvidos com muita facilidade.
Ainda assim, é evidente que Marcelo Marçal leva jeito com as palavras. Minha crítica é mais à construção da trama do que ao texto dele em si, que é bem agradável.
Na minha opinião, o escritor acertou ao ambientar a história após a pandemia, pois isso permitiu um certo distanciamento do momento em que vivemos. Também é inegável que Marçal aborda no livro temas muito importantes e atuais, como a influência crescente das empresas de tecnologia na esfera política e a ameaça constante à privacidade das pessoas no ambiente virtual.
ICTUS: O PRISIONEIRO SEM NOME
Autor: Marcelo Marçal
Editora: Labrador
Páginas: 256
Onde comprar: Amazon
Livro recebido através da parceria com a Oasys Cultural.

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.
Gostei da resenha sincera.
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Oi, Kelly. Obrigado! Eu acho difícil escrever uma resenha negativa, mas, em respeito aos leitores do blog, é preciso ser 100% sincero.
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Verdade Lucas, estou sempre acompanhando vocês.
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Sim, Kelly! Muito obrigado! 🙂
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