Resenha | Segure minha mão, de Guille Thomazi

A luta pela vida está presente desde o impressionante primeiro capítulo de Segure minha mão, segundo romance do escritor catarinense Guille Thomazi. Numa casa isolada na estepe russa, Olek, o protagonista, auxilia no trabalho de parto problemático de Ekaterina, sua esposa. Entre sangramentos e ataques de lobos, a mulher dá à luz dois bebês: o primeiro é natimorto; o segundo é uma menina pequena e frágil, que vem ao mundo sem que sua mãe, convulsionando, se dê conta. Ao despertar na manhã seguinte, antes de saber que sua filha sobreviveu, Ekaterina abandona a família sem dar explicações.

Nos anos que se passam, Olek faz longas e arriscadas incursões pra procurar a esposa — a história se passa no início do século XX, durante a violenta guerra entre a Rússia e a Polônia. A busca por Ekaterina se intensifica depois que um curandeiro com ar rasputiniano afirma que a criança, chamada Dannika, só chegará à vida adulta se beber uma poção que contenha as lágrimas da mãe. Isso força Olek a penetrar cada vez mais nas áreas de conflito atrás da esposa.

A determinação indestrutível do protagonista é o que mais chama a atenção em Segure minha mão. O personagem tem seu corpo massacrado de diversas maneiras em sua jornada, mas sua vontade e seu caráter jamais são corrompidos. Ele é construído como um herói clássico.

Num primeiro momento, a forma como Olek realiza tarefas hercúleas e sobrevive a tiros, explosões, estilhaços, quedas, brigas e fraturas chega a ser incômoda e até um pouco cansativa. Mas, à medida que a leitura avança, percebemos que Guille Thomazi não se propõe a contar uma história 100% realista. Na verdade, essa aura levemente fantástica aparece no prólogo, no comportamento dos lobos, no curandeiro e se estende até a última página do livro. Olek precisa resistir. Vencer a morte significa salvar a filha. É isso que o move e lhe dá força.

O escritor Guille Thomazi. (Foto: Gugu Garcia/Reprodução)

Nesse aspecto, Segure minha mão se afasta de muitos romances contemporâneos, que optam pelo cinismo e pela ironia. Chega a ser ousado que Thomazi aposte numa história otimista sobre coragem e bondade. Isso não quer dizer que o livro seja suave. O autor descreve em frases curtas e diretas toda a tragédia e violência que atingem soldados e civis em um conflito bélico.

A epígrafe do romance foi retirada de A estrada, e a influência de Cormac McCarthy é evidente no livro. Embora os cenários das tramas sejam diferentes, a essência da história é a mesma: pais fazendo de tudo para defender suas crianças numa realidade difícil e injusta.

Segure minha mão tem trechos bastante dolorosos, mas também passagens muito emocionantes. Por mais que seja uma leitura triste em vários momentos, o livro renova a esperança de que a bondade, a coragem, a esperança e a determinação são sempre recompensadas de alguma maneira.


SEGURE MINHA MÃO
Autor:
Guille Thomazi
Editora: Patuá
Páginas: 248
Onde comprar: Amazon

*Livro recebido através da parceria com a Oasys Cultural.


Postado por Lucas Furlan

É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.

2 comentários em “Resenha | Segure minha mão, de Guille Thomazi

  1. Querido Lucas, você escreve muito bem. E seus textos refletem a sua boa leitura. Que bom que os escritores podem contar com um leitor como você. Muito obrigada, compartilharemos. O autor já viu e está orgulhoso. Forte abraço,

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oi, Valéria! Muito obrigado, fico muito feliz com suas palavras! Agradeço o carinho de sempre e a oportunidade que a Oasys me oferece de conhecer novos autores e ótimos livros nacionais. Um grande abraço pra você também!

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