Resenha | “A Bruxa Margaret”: inspirada por quadro de Bruegel, HQ apresenta personagem solitária e destemida

A HQ A Bruxa Margaret foi inspirada no quadro Dulle Griet, pintado por Pieter Bruegel, o Velho, em 1563. As duas obras têm mulheres destemidas como figuras centrais: na pintura, uma mulher lidera um saque ao inferno; nos quadrinhos, a protagonista invoca um demônio pra pedir amor e riqueza.

A Margaret criada pelo ator e escritor Jim Broadbent (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante em 2002) e pelo desenhista Dix tem uma rotina dura, apesar do seu corpo frágil e já não tão jovem. Pobre e solitária, ela sobrevive da pesca de enguias, um trabalho que odeia.

Um dia, Margaret se permite um raro momento de diversão, mas acaba sendo roubada e humilhada. Essa é a gota d’água pra que ela decida mudar de vida. Usando ingredientes macabros, ela prepara um feitiço que lhe permite ir até o inferno para fazer seu pedido.

“Sou Margaret sou Margaret. Não aceito. As pessoas são horríveis demais e tá molhado e frio e tá difícil demais mas sou a Margaret. Eu sou a Margaret. Eu sou a Margaret!”

Após um encontro grotesco com o demônio (que é um misto de dragão com enguia), ela é avisada que, em breve, terá um amigo e um pote de ouro — o que acontece de fato. Porém, ela terá que escolher apenas um. Se quiser ficar com os dois, ficará sem nenhum.

Dix (à esquerda) e Jim Broadbent. (Foto: Graeme Robertson/The Guardian – Reprodução)

Desde o início, Margaret parece destinada à tragédia, impressão que sua cobiça e inconsequência apenas reforçam. Ainda assim, os autores conseguem fazer com que a personagem desperte empatia, principalmente devido a sua imensa solidão.

Broadbent e Dix transformam a água num símbolo importante na narrativa. É dela que Margaret tira seu sustento e é sempre a partir da água que a vida da personagem se transforma, para o bem ou para o mal.

A Bruxa Margaret é um quadrinho bastante sério. Os traços de Dix retratam cenários e personagens feios e rudes, construindo um universo muito particular. Quase não há diálogos e nem humor. Ainda assim, a história consegue tocar o leitor profundamente.

É uma graphic novel que remete a lendas ancestrais, lembrando que toda escolha tem consequências e questionando até onde somos capazes de ir para conseguir aquilo que queremos.


A BRUXA MARGARET
Autores:
Jim Broadbent (texto) e Dix (arte)
Tradução: Aline Zouvi
Editora: DarkSide Books
Páginas: 144
Onde comprar: Amazon | DarkSide Books

*Livro recebido através da parceria com a DarkSide Books.


Postado por Lucas Furlan

É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.

2 comentários em “Resenha | “A Bruxa Margaret”: inspirada por quadro de Bruegel, HQ apresenta personagem solitária e destemida

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