Resenha | Tudo pelos ares, de José Nivaldo Junior

Tudo pelos ares – amor e cólera em tempos de Lava Jato
Autor: José Nivaldo Junior
Editora: Bagaço
Páginas: 144
Onde comprar: Amazon

Dinheiro sujo, personagens obscuros, troca de favores, chantagens, organizações criminosas. Esses elementos são comuns tanto nos romances policiais quanto no universo político brasileiro, como a operação Lava Jato escancarou definitivamente. Inspirado pelo atual momento da política do nosso país, o escritor pernambucano José Nivaldo Junior escreveu o romance Tudo pelos ares, que recebi como cortesia da agência Oasys Cultural.

O protagonista do livro é JB, um homem que atua como lobista e também como “limpador de sujeiras”, ou seja, ele é a pessoa que resolve problemas que parecem não ter solução. Entre as especialidades de JB estão organizar fugas de presídios e sumir com provas comprometedoras.

JB consegue exercer suas atividades ilícitas com tranquilidade e sem levantar suspeitas, até que Elisa, a mulher casada com quem tem um caso, é assassinada. O marido dela – que era fisicamente idêntico a ele – também é morto, e JB começa a desconfiar que, na verdade, ele próprio seria o alvo do assassino.

Pra piorar, é deflagrada uma ação gigantesca no país (que, apesar de ser chamada apenas de “Operação”, é obviamente inspirada na Lava Jato), que passa a investigar antigos clientes do protagonista.

Dessa forma, JB tem que descobrir quem matou Elisa e o porquê, assim como precisa fazer o possível para manter seu nome e suas atividades longe da mira da Justiça.

O autor de “Tudo pelos ares”, José Nivaldo Junior.

O ponto de partida de Tudo pelos ares é intrigante, mas o desenvolvimento da trama deixa a desejar… Muitos dos acontecimentos são completamente inverossímeis, e eu não estou falando das relações estreitas entre políticos e assassinos que aparecem no livro – nelas, infelizmente, dá pra acreditar tranquilamente.

Mas fica difícil aceitar, por exemplo, que um bandidão poderoso, que age com o máximo de discrição e faz todo o esforço do mundo para esconder sua identidade, mantenha um diário no qual descreve suas atividades criminosas… Ou que JB chame um juiz (Sérgio Moro?) de “meretríssimo” durante uma audiência sem maiores consequências…

Na introdução do livro, José Nivaldo Junior escreve sobre como as forças do “imprevisível e do imponderável” atuam sobre a vida das pessoas, mas esses dois elementos aparecem com tanta frequência em Tudo pelos ares que a história acaba ficando exagerada. Isso faz com que o personagem JB perca força: ele deixa de ser um sujeito brilhante e eficiente (como é apresentado) para se tornar apenas um cara com uma sorte inacreditável.

Além dos problemas de verossimilhança, outro exagero do autor me incomodou: o excesso de ditados populares e expressões batidas. O livro é cheio de frases como “entregar anéis para tentar preservar os dedos”, “como diz a sabedoria popular: casa de ferreiro, espeto de pau” e “olhe que ele ainda não sabia da missa um terço, como se fala”, e de termos como “cenário dantesco” e “desabalada carreira”.

Apesar da boa premissa, fica a impressão final de que o texto de José Nivaldo Junior poderia ter sido melhor trabalhado, tanto pra eliminar vícios de linguagem, como para que soluções mais críveis — afinal, trata-se de um livro realista — pudessem ser encontradas. Esses foram os principais pontos que impediram que eu gostasse mais de Tudo pelos ares.

AVALIAÇÃO

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 Fotos: Lucas Furlan

3 comentários em “Resenha | Tudo pelos ares, de José Nivaldo Junior

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