Ana Maria Bahiana, nome fundamental do jornalismo cultural brasileiro, relançou em e-book vários de seus livros que estavam há muito tempo fora de catálogo. Entre eles está A Luz da Lente, publicado originalmente em 1995 e que reúne entrevistas com doze cineastas pesos-pesados de Hollywood.
São eles: Brian De Palma, Chuck Jones, David Lynch, Francis Ford Coppola, James Cameron, Jonathan Demme, Martin Scorsese, Oliver Stone, Quentin Tarantino, Robert Altman, Steven Spielberg e Tim Burton. Nada mal, né?
As entrevistas são deliciosas e bem diferentes das que costumamos ver atualmente, principalmente no tom. É evidente que Ana Maria Bahiana, radicada há décadas em Los Angeles, entende tudo de cinema. E também sabe muito sobre os mecanismos internos que regem Hollywood.
Há respeito pelos entrevistados, claro, mas não existe o receio de levantar questões mais agudas. Para o Coppola, por exemplo, ela pergunta: “Sua carreira sempre foi marcada por altos e baixos violentos, por momentos de intenso brilho e outros de excesso, até descontrole. Como você vê isso?”.
Hoje em dia, uma pergunta dessas talvez ficasse sem resposta, ou desagradasse os inúmeros assessores de imprensa que cercam qualquer subcelebridade. Mas Coppola responde com franqueza e profissionalismo.

As entrevistas têm muitos momentos inspiradores, como quando Chuck Jones (o genial animador da Warner) fala sobre humor e comédia. Ou quando Tim Burton explica porque gosta tanto de personagens “estranhos”.
Às vezes, as conversas tomam rumos surpreendentes: Tarantino (pouco depois do estouro de Pulp Fiction) cita O Morro dos Ventos Uivantes pra falar da violência dos seus filmes. E Spielberg diz que, após A Lista de Schindler, não faria mais nenhum filme fantasioso — ele mudaria de ideia nos anos seguintes.
O livro conta também com perfis e cronologia dos diretores, que foram atualizados para a nova edição. No perfil de James Cameron, lemos que o cineasta considera Ana Maria Bahiana uma espécie de oráculo, pois ela cravou pessoalmente pra ele que Titanic e Avatar seriam sucessos gigantescos.
Como novas entrevistas não foram inseridas nesse relançamento, alguns leitores podem apontar que A Luz da Lente não tem diversidade. De fato, os doze entrevistados são homens e brancos. Mas não é justo julgar essa característica com os olhos de hoje: a questão da diversidade sempre foi (e será) importante, mas ela não tinha em 1995 o peso que tem em 2021. E também não dá pra minimizar a importância de nenhum desses diretores na história do cinema.
A Luz da Lente é ótimo, mas eu preciso deixar uma crítica, não ao livro em si, mas a essa edição digital: o texto tem muitos erros de digitação. Ele é perfeitamente legível, mas a quantidade de erros supera o aceitável: faltam letras em muitas palavras e, numa nota de rodapé, por exemplo, o clássico Veludo Azul, de David Lynch, está grafado como Velho Azul… Ana Maria Bahiana merece que uma nova revisão seja feita com mais esmero e que o arquivo digital receba as correções necessárias urgentemente.
A LUZ DA LENTE
Autora: Ana Maria Bahiana
Páginas: 128 (eBook)
Onde comprar: Amazon

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.