Acho que nunca falei sobre isso por aqui, mas eu sou atriz. O teatro entrou em minha vida ainda na infância. Aos 9 anos participaria de um teatro de fantoches de papel machê na escola, seria a princesa de uma história que já não lembro qual era. Na véspera da apresentação, meu avô faleceu. Fui substituída por uma amiga. Por sorte era um teatro de fantoches e, escondida, ela pôde ler o texto enquanto manipulava a boneca.
Aos onze anos, fizemos outra peça na mesma escola, como trabalho numa aula de português, inspirada em As mil e uma noites. Participei de outras peças em outras escolas, mas o teatro entrou definitivamente em minha vida aos 14 anos, quando comecei meu primeiro curso livre de interpretação. De lá pra cá, 22 anos se passaram. Já atuei, dirigi e escrevi muitas e muitas peças. Essas são algumas de minhas memórias, que vieram à tona com a leitura de Prólogo, ato, epílogo.
Não só por minha relação com o teatro, mas como amante das artes, sempre tive Fernanda Montenegro como uma das minhas musas inspiradoras. Que atriz! Que mulher!
Comecei a leitura de suas memórias de forma lenta, conhecendo a história de seus antepassados e da chegada de seus familiares ao Brasil. Porém, quando cheguei à Ato, o trecho em que ela relembra sua vivência como atriz, foi impossível não devorar o livro.

É tocante a forma como Fernanda Montenegro cita seus antigos companheiros de cena. Entre tantos nomes, destaco Ítalo Rossi e Sérgio Britto, figuras marcantes em toda a sua vida. É linda a passagem das cartas trocadas com Paulo Autran, já no fim da vida de seu parceiro da icônica cena da guerra de comida, na novela Guerra dos Sexos.
Há ainda, momentos fortes da dura vida durante o período da ditadura; sua realização ao dividir o palco e a cena com seus filhos Cláudio e Fernanda Torres (e também com seus netos e genro); a emocionante retomada do cinema nacional e sua indicação ao Oscar pelo filme Central do Brasil.
Porém, destaco, de forma muito carinhosa, a trajetória de amor ao lado de Fernando Torres, seu grande companheiro de vida e palcos.
Fernanda Montenegro é um exemplo de talento, dedicação, amor à arte, lucidez e sabedoria. Uma mulher que merece todo respeito, reverência e aplausos.
Vida longa à grande dama do teatro, TV e cinema brasileiros!
→ Foto de capa do post: Gwen King / Unsplash.
PRÓLOGO, ATO, EPÍLOGO
Autora: Fernanda Montenegro (com Marta Góes)
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 392
Onde comprar: Amazon | Companhia das Letras

Postado por Carla Furlan
É publicitária, atriz e bailarina. É fã de O Senhor dos Anéis, Game of Thrones e do diretor Quentin Tarantino. Na música, adora Nando Reis, Beatles, Elvis e até hoje ama os Backstreet Boys.