Muitos escritores independentes entram em contato comigo propondo parcerias para divulgação de seus livros. Em sua imensa maioria, as obras são distopias. Isso é absolutamente normal: o tempo em que vivemos é propício para esse tipo de história.
Destruição do meio ambiente, extremismo religioso, grupos supremacistas, defesa da censura, ataques à ciência e à imprensa, admiração por regimes autoritários… Inspirações para futuros distópicos são abundantes nos dias de hoje. Pior: tudo isso é escancarado, fora das sombras. Não é por acaso que clássicos como 1984, de George Orwell, e O conto da aia, de Margaret Atwood, voltaram a frequentar as listas de mais vendidos.
(Eu sei que o fato de Orwell ter entrado em domínio público ajudou, mas 1984 vem sendo bem vendido desde que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 2016. Da mesma maneira, o romance de Atwood ganhou novo fôlego com a série estrelada por Elisabeth Moss, mas, inacreditavelmente, a República de Gilead parece mais próxima hoje do que em 1985, quando o livro foi lançado. Tanto é que Atwood revelou ter se inspirado no momento atual para escrever a sequência, Os testamentos, de 2019.)
Mas não é apenas pelas projeções sombrias e/ou alegóricas que as distopias voltaram a ser tendência. Por mais pesadas que sejam, essas narrativas apresentam personagens resistindo de alguma maneira às injustiças e ao sistema opressor. Assim, mesmo que inconscientemente, algumas delas oferecem esperança ao leitor.
As distopias costumam apresentar um despertar, uma tomada de consciência, que faz nascer um desejo de mudança em um ou mais personagens. E esse sentimento se espalha pra outras pessoas, e outras, e outras.
É disso que nós precisamos. Desse despertar. Que as pessoas abram os olhos. É impossível continuar assim, com tantas mortes, tanta ignorância e tanto desprezo pela vida.
Esperança. Nós precisamos de esperança.
(Foto: David Werbrouck/Unsplash)

Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.