Kurt Vonnegut vem sendo redescoberto pelos leitores brasileiros, graças, principalmente, às novas edições de suas melhores obras de ficção. Há alguns anos, a Aleph publicou As sereias de Titã e Cama de gato e, mais recentemente, a Intrínseca lançou Café da manhã dos campeões, Piano mecânico e Matadouro-cinco, sua obra mais popular. Mas o tema da resenha de hoje é um livro de Vonnegut de não ficção, O que tem de mais lindo do que isso?, que saiu pela Rádio Londres em 2018.
A obra reúne 15 textos do autor norte-americano, em sua grande maioria discursos proferidos por ele em formaturas universitárias, entre 1978 e 2004. Neles, Vonnegut aborda temas importantes para sua vida pessoal e profissional: pacifismo, solidariedade, preservação do meio ambiente, a defesa da educação e um ataque feroz contra a guerra, a violência e as desigualdades sociais. Sempre com o humor um pouco amargo e a ironia genial presentes em todos os seus livros.

Um discurso de 2004, intitulado Como a música cura nossas doenças (e há um bocado delas), chama a atenção pela força com que Vonnegut, aos 82 anos, ataca o governo de George W. Bush e a Guerra do Iraque.
“Estamos exportando a democracia, não estamos? Da mesma forma que os exploradores europeus trouxeram o cristianismo para os índios, que agora chamamos de ‘nativos americanos’. (…) Quão ingratas são as pessoas de Bagdá!”
Já Como ser garotos e garotas sábios, de 1981, continua assustadoramente atual:
“Nossos líderes estão cansados de todas as informações confiáveis que foram jogadas sobre a humanidade pela pesquisa científica, pela erudição e por reportagens investigativas.”
E ainda:
“Quase todos os palpiteiros [do governo] são pessoas muito instruídas, acreditem. Eles tiveram de jogar fora sua educação — e estamos falando de uma educação recebida em Harvard ou Yale.”
É preciso dizer que Kurt Vonnegut recicla algumas passagens dos discursos com o passar dos anos, como a importância das comunidades, a explicação da pergunta que dá nome ao livro e sua admiração pelo Sermão da Montanha, apesar de não se identificar como cristão. Isso faz com que O que tem de mais lindo do que isso? seja repetitivo em alguns poucos momentos.
Porém, eu prefiro ler repetidas vezes sobre os valores defendidos por Vonnegut do que me deparar uma única vez com as bobagens fúteis e egoístas que encontramos por aí. Afinal, o que o autor sempre defendeu acima de tudo — com inteligência, sagacidade e humor, não custa lembrar — foi um mundo mais justo, fraterno e pacífico.
O QUE TEM DE MAIS LINDO DO QUE ISSO?
Autor: Kurt Vonnegut
Tradução: Petê Rissatti
Editora: Rádio Londres
Páginas: 156
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Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.