O dia em que o rock morreu é uma boa amostra do tipo de jornalismo que André Forastieri sempre pregou e praticou: crítico, iconoclasta, provocador. O livro reúne textos escritos ao longa de toda a sua carreira profissional, que inclui passagens marcantes pela Folha de São Paulo e pela Revista Bizz — a publicação mais importante da minha adolescência, que moldou minha paixão por música, embora num período posterior ao dele.
O livro é amarrado pelo tema da morte. O fim de artistas como John Lennon (num obituário tardio), Lou Reed, Ronnie James Dio, Joe Strummer, Chorão e Amy Winehouse, entre outros; o fim da MTV, das revistas de música e do mercado fonográfico tradicional; a morte do rock.

O rock morreu? Forastieri defende que sim. Segundo ele, não por falta de boas bandas novas, mas porque o rock foi domesticado, perdeu o perigo. Assim como perdeu a influência no comportamento, a importância política e a conexão com os jovens — seu público-alvo desde o seu surgimento.
É uma tese que pode irritar muitos roqueiros, mas, no fundo, também é uma defesa do que o rock pode representar (ou já representou):
“Rock é tesão proibido, coragem suicida, dentes à mostra.”
Para o autor, a última vez que o gênero foi realmente relevante foi com o Nirvana, por isso a banda recebe uma atenção especial. São seis textos sobre ela, inclusive uma entrevista exclusiva feita com Kurt Cobain (na ocasião do Hollywood Rock de 1993) e o célebre review de Nevermind publicado na Bizz.
Eu gosto bastante do estilo do André Forastieri (que, entre outras atividades, foi um dos fundadores da editora Conrad e, hoje em dia, é uma das maiores autoridades brasileiras do LinkedIn), ainda que não concorde com tudo que ele escreve.
Mas é muito enriquecedor ler textos inteligentes, corajosos e, até certo ponto, inconsequentes, numa época em que é praticamente proibido discordar e pensar com a própria cabeça.

O DIA EM QUE O ROCK MORREU
Autor: André Forastieri
Editora: Arquipélago Editorial
Páginas: 184
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Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.
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