A metamorfose
Autor: Franz Kafka
Tradução: Modesto Carone
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 102
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A novela A metamorfose, escrita por Franz Kafka em 1912 e publicada três anos depois, é uma das obras mais influentes de toda a história da literatura. Nela, o escritor tcheco antecipa um tema muito caro aos escritores e filósofos do século XX: o absurdo da vida moderna. Kafka toma como ponto de partida uma situação inusitada: um homem que acorda transformado num inseto.
Um início inesquecível
Mesmo quem nunca leu Kafka, já se deparou em algum momento com o início de A metamorfose:
Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.
(Só um detalhe: muita gente pensa que Gregor se transforma numa barata, mas, como fica claro na tradução de Modesto Carone, o tipo de inseto não é especificado.)
Além desse acontecimento bizarro, a originalidade de A metamorfose está na forma como Kafka faz com que os personagens reajam a essa situação: com uma surpreendente naturalidade. Ao invés de se questionar como e por que se transformou num inseto gigante, Gregor Samsa só se preocupa com seu atraso no emprego.
Com isso, o começo do livro chega a ser engraçado – poderia ser um esquete do Monty Python: Samsa não tem nem tempo de pensar se seria possível reverter a metamorfose; ele precisa aprender a controlar o novo corpo pra conseguir se levantar da cama e pegar o próximo trem. Seus pais e a irmã começam a bater na porta pra perguntar se ele já se levantou, e até o gerente da firma aparece para questionar o motivo do atraso.
Mas, nas páginas seguintes, o humor vai embora, ainda que o absurdo permaneça.
O que causou a metamorfose?
Depois que a situação de Gregor é descoberta, a relação de sua família com ele também passa por uma metamorfose: ele começa a ser mantido em seu quarto, tendo o mínimo de convívio familiar possível. É como se Gregor Samsa estivesse doente, mas não há nenhum tipo de busca por uma cura. Justo ele que, antes, era o responsável por manter financeiramente a casa.
Com o passar do tempo, Gregor vai se transformando mais e mais num inseto: ele para de falar (embora continue sendo uma criatura racional), começa a caminhar pelas paredes e passa a se alimentar de restos de comida. Consequentemente, também começa a despertar cada vez mais repulsa.
Não fica claro em nenhum momento o que causou a metamorfose do protagonista, mas dá pra saber que a vida dele não era fácil: tinha um emprego do qual não gostava (era caixeiro viajante) e no qual se sentia explorado; a relação de sua família com ele era parasitária; não tinha um relacionamento amoroso… Mas ninguém parecia perceber que Gregor Samsa passava por tudo isso.

Uma obra autobiográfica?
Kafka coloca em Gregor muitas de suas próprias dores e frustrações (ele também tinha problemas com o pai e não gostava do seu emprego numa companhia de seguros), e é como se dissesse que o homem moderno – ele próprio, inclusive – estava sendo transformado num inseto, se não fisicamente, em toda a sua essência.
Um inseto que deveria ser mantido alienado, nas sombras, sem vontade própria e longe de seus verdadeiros desejos e ambições. Kafka devia se sentir assim: para se sustentar, não podia abandonar o emprego e, com isso, era incapaz de se dedicar o tanto que gostaria à literatura – como sabemos atualmente, sua verdadeira vocação.
O texto de A metamorfose não envelheceu e continua aberto a diferentes interpretações até hoje. Apesar do tema complicado, o estilo de Kafka é acessível e o livro é bem curto. O escritor influenciou autores como Jorge Luis Borges e Gabriel García Márquez (pra ficar em apenas dois de seus incontáveis adoradores)…
Ou seja: você pode até não vir a gostar – eu gosto muito -, mas não tem desculpa para não ler. É uma obra-prima obrigatória.
AVALIAÇÃO
→ Fotos: Lucas Furlan
Sou das poucas pessoas que não gostei. Sendo que nem acabei de o ler. Mas estou determinada a fazê-lo, nas próximas semanas. Mesmo não gostando quero terminar o conto (tenho o livro de contos)
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Verdade, Leonor? Bom, não dá pra negar que o tema de “A metamorfose” é meio indigesto, né? Mas acho que é muito importante dar uma chance a uma obra tão influente, mesmo que você acabe não gostando dela – afinal, cada um tem seu gosto 🙂
Muito obrigado pelo comentário! Até!
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Verdade… Mas o compromisso está assumido: vou começar a ler o conto do início e, quer goste quer não, vou terminá-lo.
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Isso aí! Depois me conte o que você achou.
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Deal 😉
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Oi Lucas!
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que estou encantada com seu texto. Em poucos parágrafos você conseguiu transmitir ao leitor a magnitude dessa obra. Ou a magnitude de Kafka, eu diria!
Ele é um de meus autores preferidos. Essa característica de colocar o absurdo como algo comum, me encanta.
Amei A Metamorfose. Acho que é uma obra cujas entrelinhas trazem reflexões importantes, como sobre a utilidade do ser humano com o passar do tempo, por exemplo. Além de ser uma aula de escrita, né?!
Parabéns pela resenha!
Beijos!
Mais Uma Página
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Oi, Michelly! Fico feliz que você tenha gostado.
Muito obrigado pela visita, pelo comentário e pelos elogios!
PS: eu também acho o Kafka sensacional 🙂
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Nunca li uma obra tão real e tão ficcional ao mesmo tempo! A METAMORFOSE é uma leitura rápida, pode demorar algumas horas, mas ela marca pra sempre a vida do leitor. Ótima dica. Parabéns pelo post!
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Oi, Elaine! Sim, a leitura de “A metamorfose” é obrigatória.
Valeu pela visita e pelo comentário!
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