O blog estreia hoje uma nova seção, batizada de Diários. Nela vou escrever pequenas crônicas sobre fatos relevantes do meu cotidiano. Pra começar, vou contar sobre a coisa mais corajosa que já fiz (embora alguns digam que foi a coisa mais estúpida): pedir demissão.
Deixei meu emprego ontem, após cumprir o aviso prévio de trinta dias. Não foi uma decisão fácil: a empresa queria que eu continuasse, e eu saí sem ter outro trabalho em vista. Pra dificultar ainda mais a minha decisão, aquele foi meu primeiro emprego “de verdade”, no qual fiquei por nove anos!
Já fazia algum tempo que eu vinha cogitando essa possibilidade. Modéstia à parte, eu era muito bom no que fazia e sei que, em condições normais, ainda teria muito tempo de empresa. Mas eu me acomodei. Passei a repetir as fórmulas que deram certo, e me acostumei com o que havia de errado. Eu ficava incomodado, mas pensava “sempre foi assim e nunca vai mudar”. Resumindo: passei a trabalhar “apenas” pelo salário. Sempre dei o meu melhor, e trabalhei com dedicação e empenho. Mas pra mim não era o suficiente. Estava estressado. E triste.
Há algum tempo a empresa vinha passando por mudanças, e eu discordava de muitas delas. Pra evitar desgastes, inclusive da minha saúde, percebi que era a hora de ir embora. Não foi fácil, mas pedi demissão.
A partir dali, um diabinho passou a falar no meu ouvido direito: “você quer se casar em breve, mas não vai ter dinheiro”, “pra se manter, você vai ter que gastar suas economias”, “você vai depender da ajuda dos seus pais”, e “você não vai conseguir outro emprego”… Ao mesmo tempo, um anjinho gritava no meu ouvido esquerdo: “se você esperar até se casar, nunca vai sair de lá”, “você tem economias pra se manter por um tempo”, “você pode contar com seus pais” e “você vai conseguir um novo emprego”.
Enfim, com o apoio da minha noiva e dos meus pais, tomei impulso e saltei.
Durante esse processo, pensei bastante em dois livros. O primeiro foi o ótimo Para ler como um escritor, da norte-americana Francine Prose, especialmente o último capítulo, intitulado Ler em busca de coragem. Nele, Prose fala sobre como a literatura
pode nos dar coragem para resistir a todas as pressões que a cultura exerce sobre nós para escrever de determinada maneira.
E ainda:
a arte implica um tipo de liberdade: a liberdade de escolha, de possibilidade, a da imaginação individual.
No fim das contas, tudo é muito parecido: escrever, fazer arte e viver.
Outro livro que me veio à cabeça foi o best-seller Um dia, do inglês David Nicholls. Em dado momento, ainda no começo do romance, uma das protagonistas, Emma, está trabalhando numa espelunca que vende comida mexicana, chamada Loco Caliente. Ela tem uns 25 anos, mas é uma das funcionárias mais velhas do lugar. Emma odeia sua rotina, trabalha muito, ganha pouco, e vive sendo lembrada por Dexter (o outro personagem principal) que tem potencial para coisas muito melhores. Emma, entretanto, não tem confiança para alçar voos mais altos. Quando ela recebe uma proposta para se tornar gerente, já que “era confiável” e “nunca largaria tudo por um emprego melhor”, sua primeira reação é ter uma incontrolável crise de choro.
Meu emprego não era tão ruim quanto o de Emma Morley – era muito, mas muito melhor, na verdade – mas o meu sentimento era parecido com o dela: estou infeliz e preciso arriscar, embora eu não saiba direito como.
Pode ser que eu me arrependa, é lógico. Mas a parte mais difícil, a tomada da decisão, foi concluída. E quer saber? Eu me sinto ótimo e descobri que pedir demissão não me matou. Inclusive, fiquei mais confiante – antes, dificilmente eu postaria um texto tão pessoal quanto este.
PS: o livro Um dia é excelente, mas o filme é bem meia-boca.
→ Imagens extraídas da internet
Olá! Mudanças são assustadoras, mas são necessárias! Se não irmos contra nossos medos, nunca saímos do mesmo lugar. Parabéns por sua decisão, pela sua coragem e principalmente pela sua atitude em saber que a consequência desse ato é responsabilidade sua! Somos donos da nossa vida, independente do que a sociedade diga! Bjs
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Oi, Karina! Concordo plenamente! Afinal, quem não dá o primeiro passo, não sai do lugar, né? Obrigado pelo comentário! 🙂
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