Maluca. Surreal. Brilhante. São muitos os adjetivos que podem ser usados para classificar a graphic novel Conto de areia. Com desenhos de Ramón K. Pérez, a obra é a adaptação de um roteiro escrito por Jim Henson e Jerry Juhl que nunca foi filmado.
Henson, antes de se consagrar como um gênio das marionetes (Os Muppets e Vila Sésamo são criações dele), estava interessado em cinema experimental. Seu primeiro filme, Time Piece, chegou a concorrer ao Oscar de “Melhor curta-metragem” em 1966.
Entre 1967 e 1974, Jim Henson e Jerry Juhl, que foi seu principal parceiro criativo, trabalharam em três versões do roteiro de Conto de areia, mas nenhum estúdio topou produzi-lo. Com o passar do tempo, o projeto acabou abandonado, até ser transformado nessa graphic novel lançada em 2011, mais de vinte anos após a morte de Henson.
Lendo Conto de areia até fica fácil entender porque ninguém quis bancar o filme: além de ser experimental, com certeza seria uma produção bem cara.

A história começa com Mac, o protagonista, chegando a uma pequena cidade, onde é recebido com muita festa. Sem nenhuma explicação, ele é informado pelo xerife local que deve partir imediatamente, cruzando o deserto em direção a uma tal Montanha da Águia. Mac ganha um mapa e uma mochila cheia de objetos estranhos, e, mesmo confuso, inicia sua jornada. Antes de partir, ele é alertado que sua vida correrá perigo.
E perigos não faltam em sua travessia pelo deserto: Mac é atacado por animais selvagens, guerreiros árabes, jogadores de futebol americano e, principalmente, por um misterioso homem que tenta matá-lo de qualquer maneira.
Embora se assemelhe a um pesadelo, a HQ transborda vida e energia. Além do roteiro cheio de humor e criatividade de Henson e Juhl, isso se deve muito à arte de Ramón K. Pérez. Os desenhos, as cores e a diagramação são fantásticos, e a edição do Pipoca & Nanquim é perfeita.

Conto de areia tem pouquíssimos diálogos e uma ação desenfreada — eu recomendo a leitura de uma só vez, para que a imersão nessa jornada surreal seja completa. Deixo o aviso de que nada se explica e o final, pra lá de intrigante, deixa mais dúvidas do que certezas.
Conto de areia ganhou três Prêmios Eisner, o “Oscar dos quadrinhos”, em 2012: “Melhor álbum gráfico”, “Melhor desenhista” e “Melhor design de publicação”. Merecidíssimo. Trata-se de uma graphic novel fantástica — em todos os sentidos possíveis e imagináveis.
CONTO DE AREIA
Autores: Jim Henson e Jerry Juhl (roteiro) e Ramón K. Pérez (arte)
Tradução: Marília Toledo
Editora: Pipoca & Nanquim
Páginas: 160
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Postado por Lucas Furlan
É formado em Comunicação Social e trabalha com criação de conteúdo para a internet. Toca guitarra e adora música e cinema, mas, antes de tudo, é um leitor apaixonado por livros.
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