Análise | Game of Thrones: The iron throne (S08E06)

Acabou. Depois de oito temporadas, Game of Thrones chegou ao fim no último domingo. O desfecho da série da HBO recebeu muitas críticas, e até uma petição bizarra foi criada exigindo que essa última leva de episódios seja desconsiderada. O último episódio, The iron throne, teve falhas — como a oitava temporada inteira, aliás — mas, de uma forma geral, eu gostei. Sim, eu sei que faço parte da minoria.

Atenção: este texto tem spoilers.

O principal problema da reta final de Game of Thrones foi, sem dúvida, a narrativa acelerada. Com menos episódios, a trama foi apresentada de forma corrida e isso prejudicou o desenvolvimento dos personagens e a coerência em diversas situações.

Muita gente reclamou que Daenerys tenha se revelado uma tirana, embora os sinais sempre tenham estado lá. A questão é que nós nos acostumamos a ver a Mãe dos Dragões como heroína durante anos, e tivemos que aceitar esse lado obscuro dela em apenas três episódios.

Daenerys (Emilia Clarke) discursa para o seu exército.

Essa pressa comprometeu também a verossimilhança. Em The iron throne, por exemplo, não deu pra entender por que o Verme Cinzento — um carrasco implacável — não executou o Jon Snow quando soube que ele tinha matado sua rainha. Faltou uma cena explicando o porquê de ele ter sido poupado.

Com Tyrion, a mesma coisa. Ele não só não foi executado, como foi autorizado a participar, e ser decisivo, na escolha do próximo rei. Isso seria mais aceitável se tivéssemos visto alguns personagens simpáticos a ele argumentando que Tyrion era o último membro vivo de uma das famílias mais nobres de Westeros e, portanto, deveria participar daquele conselho.

Compare com o desfecho de Podrick. O escudeiro terminou como membro da Guarda Real, o que pode ser visto como um exagero. Mas, além de ele ter sido treinado por Brienne e de ter provado sua lealdade em várias ocasiões, seu aprimoramento no combate foi elogiado por Jaime. Uma única frase dita num episódio anterior torna o acontecimento mais fácil de ser aceito.

Tyrion (Peter Dinklage) nas ruínas de Porto Real.

Muitas situações do episódio ficaram desleixadas. Não sabemos o que aconteceu aos dothraki; reinos tradicionalmente rebeldes, como as Ilhas de Ferro e Dorne, aceitam a independência do Norte sem solicitar o mesmo privilégio; é escrito um livro (adivinhe o nome: As crônicas de gelo e fogo) narrando tudo que se passou e Tyrion, um dos personagens mais importantes da história recente, não é citado; Bran — que é capaz de ver tudo o que aconteceu e acontece no mundo — solicita a posse de um novo Mestre dos Sussurros para ser informado dos segredos do reino…

Isso tudo incomodou bastante, mas o desfecho dos personagens foi bem satisfatório, pelo menos pra mim.

A gente já esperava que Daenerys fosse morta por Jon Snow, e assim aconteceu. Sua morte foi simples, dada a importância da personagem, e a partir de certo momento se tornou inevitável. Antes de ser apunhalada pelo amante, a khaleesi teve ótimas cenas, principalmente em sua chegada para discursar para seus soldados, quando as asas de Drogon pareceram fazer parte de seu corpo.

Daenerys nos braços de seu assassino, Jon Snow (Kit Harington).

O dragão também teve sua despedida. Ao ver que sua mãe estava morta, ele reconheceu o sangue Targaryen de Jon Snow e poupou sua vida, mas destruiu o trono de ferro — um símbolo da glória e da ruína de Daenerys, da Dinastia Targaryen e, consequentemente, de todos os dragões. Drogon recolheu o corpo de sua mãe e desapareceu em direção ao leste.

Sam se torna meistre e Brienne passa a comandar a Guarda Real. No livro de registros da Guarda, ela finaliza a história de Jaime, possibilitando que o Regicida passe a ser visto como um homem honrado no futuro.

Sansa e Arya tiveram desfechos coerentes. Sansa consegue a independência do Norte e se torna a rainha por lá — embora fosse perfeitamente aceitável se ela tivesse sido eleita a rainha de Westeros inteiro. Sansa aprendeu com amigos e inimigos e se tornou uma líder forte e sábia (a “baixada de bola” que ela dá em seu tio, Edmure, é sensacional).

Arya (Maisie Williams), Bran (Isaac Hempstead-Wright) e Sansa (Sophie Turner): a família Stark se deu bem no final.

Arya abandona o continente e vai explorar os mares desconhecidos a oeste de Westeros. A gente torcia pra que ela ficasse com sua família mas, assim como sua loba, Nymeria, ela tinha seu próprio rumo a seguir.

Foi uma surpresa Bran ser escolhido como o novo rei, afinal, mesmo com todo o seu poder, o personagem não vinha servindo pra muita coisa já há algum tempo. As funções de Rei e de Corvo de Três Olhos também pareciam incompatíveis. Mas é aceitável (ok, mais ou menos aceitável) se a gente pensar que ele, teoricamente, não vai repetir os erros dos governantes anteriores. Com suas visões, ele tem acesso aos êxitos e fracassos dos reis que o antecederam.

Tryion foi o grande personagem do episódio. Desde o começo, quando ele encontra os corpos de Cersei e Jaime, até o final quando ele reassume o cargo de Mão do Rei. É o anão quem convence Jon Snow a matar Daenerys e quem sugere que Bran seja coroado. Tyrion teve sua importância diminuída por várias temporadas, mas foi a figura mais importante no encerramento da série. De quebra, ainda colocou o mercenário Bronn no pequeno conselho como Mestre da Moeda (o que é meio estranho, mas não deixa de ser engraçado).

O Pequeno Conselho do Rei Bran (de costas): (da esq. para a dir.) Brienne (Gwendoline Christie), Bronn (Jerome Flynn), Tyrion, Davos (Liam Cunningham) e Sam (John Bradley-West).

E, por fim, Jon Snow. Por mais que muitos espectadores não gostem dele, Jon sempre foi o personagem disposto a se sacrificar e a fazer o certo. Por isso, seu final faz todo o sentido.

Ao matar Daenerys, sua rainha, ele abre mão de sua honra e de sua própria vida (lembremos que Jon só sobreviveu pela boa vontade dos roteiristas; ele poderia ter sido morto por Drogon ou pelo Verme Cinzento). Jon não é executado, mas é enviado de volta à Patrulha da Noite. Tudo bem, a Patrulha não deveria existir mais, mas aquele é o lugar ao qual ele sempre pertenceu. Jon sempre viveu como um bastardo e a descoberta de seu nome real não mudou isso.

Jon volta ao Norte e se une aos Selvagens, que, não por acaso, são autodenominados “o Povo Livre”. O “bastardo de Winterfell” finalmente se sente em casa e próximo de sua verdadeira essência, representada pelo reencontro com o lobo Fantasma. Jon Snow nunca será Aegon Targaryen. Ele, finalmente, pôde virar as costas para Westeros, para as famílias nobres e suas disputas por poder.

Jon Snow: de volta ao Norte e ao lado dos Selvagens.

A temporada final de Game of Thrones ficou longe de ser perfeita e, sem dúvida, poderia ter sido melhor. Tudo foi muito corrido, várias premissas foram abandonadas pelo caminho e muitas soluções fáceis foram utilizadas.

Talvez eu tenha me apegado demais à série, mas, na minha opinião, esses problemas não foram suficientes para quebrar sua mística. O caminho dos personagens pode ter sido tortuoso, mas seus destinos foram dignos.

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