Resenha | Carmilla, a vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu

Carmilla, a vampira de Karnstein
Autor: Sheridan Le Fanu
Tradução: José Roberto O’Shea
Editora: Hedra
Páginas: 152
Onde comprar: Amazon

Em 1897, o escritor irlandês Bram Stoker apresentou ao mundo o personagem cujo nome se transformaria em sinônimo de vampiro: o Conde Drácula. O que nem todo mundo sabe é que Stoker foi profundamente influenciado por outra história de vampiro (ou melhor, vampira), que foi escrita vários anos antes por um conterrâneo seu. Estou falando de Carmilla, a vampira de Karnstein, obra mais conhecida de Sheridan Le Fanu.

O escritor irlandês Sheridan Le Fanu (1814-1873). (Reprodução)

Carmilla foi publicado como folhetim entre 1871 e 1872 na revista Dark Blue. Apesar de não ter sido a primeira história sobre vampiros a ser escrita em inglês, foi a primeira em língua inglesa a apresentar a criatura como sendo do sexo feminino.

A trama se passa na Estíria, região na fronteira entre a Áustria e a Hungria. O local é cercado de lendas assustadoras, nas quais nem todos acreditam. Mas uma coisa intriga os personagens: uma doença misteriosa está contaminando e tirando o vigor de várias moças das redondezas.

É lá que fica o castelo onde vivem a jovem e ingênua Laura (que é a narradora do livro) e seu pai viúvo. Eles seguem uma rotina sem grandes preocupações, até que, numa noite, presenciam o capotamento de uma carruagem.

Entre as vítimas do acidente, apenas uma linda moça fica incapacitada de seguir viagem. Laura convence o pai a hospedá-la até que ela se recupere.

Sim, a vítima do acidente é Carmilla. E sim: como o título da tradução do livro entrega (o título original é apenas Carmilla), ela é uma vampira. Não demora pra que ela comece a exercer uma influência demoníaca sobre Laura.

A leitura de Carmilla atualmente não apresenta grandes surpresas, mesmo pra quem não conhece a história. Várias situações foram reaproveitadas em inúmeros livros e filmes, inclusive no próprio Drácula. Mas, obviamente, isso é mérito de Sheridan Le Fanu.

Inclusive, foi em Carmilla que Bram Stoker “aprendeu” que os vampiros podem se transformar em animais e que as estacas são excelentes armas contra eles.

O que permanece de ousadia no livro – e que deu o que falar na época – é a atração lésbica entre Laura e Carmilla. A vampira seduz sua vítima e desperta nela sentimentos que a Laura não consegue entender. Mas Carmilla sabe que essa atração, invariavelmente, levará à morte e, por isso, diz coisas como:

“Está próximo o momento em que saberás de tudo. Vais me achar cruel, muito egoísta, mas o amor é sempre egoísta; quanto mais ardente, mais egoísta. Não sabes como sou ciumenta. Tens que vir comigo, amando-me, para a morte; ou então me odeie, mas vem comigo, e me odeie na morte e depois dela.”

Apesar desse belo trecho, a escrita de Sheridan Le Fanu tem altos e baixos. O desfecho de Carmilla é apressado e tem soluções muito simples. Ao mesmo tempo, o livro tem passagens marcantes, como a aparição da vampira na forma de um enorme gato (a cena mais assustadora da obra) e a localização do seu túmulo.

Carmilla, a vampira de Karnstein pode até não ser tão impactante hoje em dia quanto na época em que foi lançado, mas sempre é válido ler um clássico tão influente.

Essa edição da Hedra tem como adicional uma excelente introdução de Alexander Meireles da Silva. Nela, além de apresentar Sheridan Le Fanu e seu livro mais famoso, o autor escreve sobre a tradição de criaturas vampirescas na literatura, no cinema e na cultura popular.

AVALIAÇÃO

3-estrelas-2

Fotos: Lucas Furlan.

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