Resenha | O mal de Lázaro, de Krishna Monteiro

O mal de Lázaro
Autor: Krishna Monteiro
Editora: Tordesilhas
Páginas: 176
Onde comprar: Amazon

A resenha desta sexta-feira é sobre O mal de Lázaro, primeiro romance do escritor e diplomata paranaense Krishna Monteiro. O livro foi lançado em fevereiro deste ano e é o segundo publicado por ele: sua estreia foi o volume de contos O que não existe mais, que também saiu pela Tordesilhas, selo da Editora Alaúde.

Em O mal de Lázaro, Krishna Monteiro aprimora o estilo de escrita que já tinha apresentado em O que não existe mais: seu texto é poético e mistura referências e inovações. Também é óbvio o cuidado que ele tem na escolha das palavras e frases. Essas características exigem do leitor uma atenção redobrada e dão origem a uma obra aberta a diferentes interpretações.

O escritor Krishna Monteiro. (Reprodução)

Um dos elementos mais intrigantes e originais do livro, sem dúvida, é a narradora. Ela fisga o leitor logo nos primeiros parágrafos, ao apresentar Lázaro como um homem doente, que usa suas poucas forças para se afastar de uma multidão que o persegue. Os acontecimentos que levaram àquela situação são relembrados pela narradora nos capítulos seguintes.

Mas ela não se dirige ao leitor, pelo contrário. O livro, em sua maior parte, é escrito na segunda pessoa, com a narradora falando diretamente com Lázaro, cujo nome foi escolhido por ela:

“Chamei-te Lázaro, pois nunca soube teu verdadeiro nome; e, se quisermos uma chance de juntos compreendermos por quais razões dessa forma agi, talvez tenhamos – tu, eu, e todos os que nos ouvem – de deixar por um momento esta noite em montanhas, e também a praia logo abaixo e também o teu fim que se aproxima, e juntos retornarmos até o primeiro dia, a primeira vez que te vi.” 

Apesar de passar todo o romance se dirigindo a ele, a narradora não pode ser ouvida pelo protagonista. Ela também é invisível (exceto em ocasiões muito específicas, sobre as quais não devo adiantar nada), embora seja capaz de realizar ações como arrastar cadeiras, abrir porteiras e dormir.

Pra completar, a narradora é uma figura determinante – para o bem e para o mal – no destino de Lázaro.

Falei que ela era intrigante, né?

Assim como a narradora, Lázaro também é um enigma a ser decifrado pelo leitor. Durante o dia, ele trabalha num matadouro e executa suas tarefas com frieza; mas à noite, em sua casa (depois de se isolar do mundo vedando as frestas das portas e janelas), ele passa a maior parte do tempo desenhando os animais que matou.

Acostumado a ser tratado com dureza e indiferença pelas outras pessoas – condição que se acentua depois que ele fica doente -, Lázaro é forçado a romper seu isolamento quando se espalha a notícia de que seus desenhos possuem efeitos milagrosos.

É difícil não sentir empatia por ele: Lázaro se mantem um homem bom e sensível, mesmo com as dores e o embrutecimento que a vida lhe impôs.

Apesar de não ser uma obra realista, os dramas humanos são a base de O mal de Lázaro e eu recomendo muito a leitura. Krishna Monteiro escreveu um livro criativo e original, tanto no conteúdo quanto na forma. Mas, repito: trata-se de um livro que exige dedicação do leitor e que é aberto a diferentes interpretações.

(Entre os vários temas do livro, gosto de um em particular: a arte vista como uma forma de combater a morte, as dores e os medos dos Homens.)

AVALIAÇÃO

4-estrelas-2

Fotos: Lucas Furlan.

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