Resenha | A filha perdida, de Elena Ferrante

A filha perdida
Autora: Elena Ferrante
Tradução: Marcello Lino
Editora: Intrínseca
Páginas: 176
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Depois que suas filhas, já adultas, vão morar no exterior, uma mulher tira uns dias de férias no litoral sul da Itália. Lá, ela conhece uma jovem mãe e sua família napolitana e, ao mesmo tempo, relembra fatos marcantes de sua própria vida familiar.

Esse é, basicamente, o ponto de partida de A filha perdida, romance publicado em 2006 (mas que só chegou ao Brasil dez anos depois) pela misteriosa escritora italiana conhecida como Elena Ferrante. Essa sinopse pode dar a entender que o livro é uma comédia romântica ou algo parecido, mas sua proposta é bem diferente. Apesar de ser curta e de poder ser lida rapidamente, a obra é densa e profunda, e sua protagonista dificilmente pode ser considerada uma mãe exemplar.

Sinceridade brutal

Nas memórias que divide com o leitor, Leda, a personagem principal e narradora de A filha perdida, não tem vergonha de assumir que é individualista e que odiou ter que sacrificar vários momentos de sua vida pessoal e profissional para criar as filhas, Bianca e Marta. A sinceridade com que Leda expõe seus sentimentos é brutal: raivas, rancores, traições, dúvidas, inseguranças… Nada fica de fora do seu fluxo de consciência.

Com as filhas distantes, a protagonista pode voltar a se dedicar a si própria e, embora celebre essa nova condição, fica claro desde o princípio o quanto a ausência das meninas mexe com ela. Leda não consegue parar de pensar sobre elas e, ao mesmo tempo em que se queixa de todo o trabalho que as filhas lhe deram, lamenta que elas não liguem pra saber como está sendo a viagem da mãe.

Talvez para suprir essa ausência, Leda tem sua atenção atraída para a tal família napolitana, que a faz lembrar de seus próprios parentes. Ela se aproxima, especialmente de Nina, a jovem mãe, e sua filha pequena, Elena.

Porém, algumas atitudes impensadas tomadas por Leda – uma, em particular, que eu não posso comentar – fazem com que um clima de tensão e perigo sempre paire sobre elas, especialmente nos momentos em que o marido de Nina está presente (afinal, a família é de Nápoles, território célebre pela influência da Máfia).

“Desromantizando” a maternidade

Além de Leda e Nina, A filha perdida é recheada de figuras maternas. A mãe da protagonista é relembrada por ela; Elena (a filha de Nina) age como se fosse mãe de sua boneca, e imagina que uma vida também está crescendo no interior do brinquedo. Há ainda Rosaria, cunhada de Nina, que está grávida.

Mesmo com tantas mamães em seu texto, Elena Ferrante faz com que suas personagens, cada uma à sua maneira, “desromantizem” a maternidade. Filhos dão trabalho, ficam doentes, têm personalidades difíceis, exigem força e sacrifícios. E nem todas as mães – já que umas são diferentes das outras – lidam bem com isso.

Elena Ferrante trata esse tema delicado com extrema honestidade, e essa é uma das qualidades de A filha perdida. O talento literário de Ferrante também é inegável: seu estilo é claro e denso, acessível e profundo. Sua protagonista não é agradável, mas é difícil largar o livro.

Minha única crítica é o desfecho, que achei rápido demais, porém isso não tira a força da obra. Foi meu primeiro contato com a obra de Elena Ferrante, e já estou curioso para ler mais. Trata-se de um livro duro, mas cuja leitura eu gostei e recomendo muito.

A tradutora italiana Anita Raja, apontada como a pessoa por trás de Elena Ferrante.

Quem é Elena Ferrante?

Pra encerrar, preciso falar só um pouquinho sobre Elena Ferrante, para o caso de alguém não saber quem é ela. Bom, na verdade, quase ninguém sabe. Elena Ferrante é um pseudônimo, e a pessoa real por trás do nome é um enigma. O jornalista italiano Claudio Gatti afirmou que a escritora é, na verdade, a tradutora Anita Raja, após uma investigação que gerou muita polêmica – mas a informação não foi confirmada por ela.

Mesmo com tanto mistério, Elena Ferrante foi considerada em 2016 como uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Seu trabalho mais conhecido, a Tetralogia Napolitana (formada pelos livros A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida, todos publicados no Brasil pela Biblioteca Azul), teve seus direitos comprados pela HBO e está sendo transformada em série. A estreia deve acontecer ainda neste ano.

Você já leu A filha perdida ou algum outro livro de Elena Ferrante? O que achou? Conte pra mim nos comentários!

AVALIAÇÃO

4-estrelas-2

Fotos: Lucas Furlan, exceto imagem Anita Raja (extraída da internet).

4 comentários em “Resenha | A filha perdida, de Elena Ferrante

  1. Também sou fã de Elena
    Ferrante.
    Li e gostei muito da tetralogia napolitana. Curioso como os nomes dos personagens se repetem na obra da autora.

    Curtido por 1 pessoa

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