Resenha | Don Juan, de Molière

don-juan-ou-o-convidado-de-pedraDon Juan
Autor: Molière
Tradução: Celina Diaféria
Editora: Hedra
Páginas: 110
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O personagem Don Juan foi criado pelo espanhol Tirso de Molina e apareceu pela primeira vez na peça O burlador de Sevilha, de 1630. De lá pra cá, ele foi utilizado por diferentes autores em poemas, óperas, romances e filmes. Se hoje em dia Don Juan se tornou sinônimo de um homem romântico, cavalheiro e conquistador, no século XVII ele tinha características bem pouco nobres. Em 1665, o dramaturgo francês Molière (1622-1673) criou sua versão do personagem e imaginou Don Juan como um sujeito de péssimo caráter (mas muito engraçado), numa peça que daria muita dor de cabeça pra ele.

Autêntico 1-7-1

Batizada de Don Juan ou O convidado de pedra, a peça de Molière é uma comédia de cinco atos que se passa na Sicília. O protagonista é um nobre irresponsável que passa seu tempo conquistando mulheres (para descartá-las em seguida), dizendo blasfêmias, contando mentiras e, resumindo, arranjando confusão. Logo no início do texto, sabemos que ele está fugindo de Dona Elvira, com quem tinha se casado pouco tempo antes. Detalhe: ela estava num convento quando foi seduzida e iludida pelo conquistador.

O comportamento de Don Juan faz com que ele crie diversas inimizades durante a peça, que se passa em apenas dois dias. Pra completar, ele ainda tem um crime em sua conta: o assassinato de um comendador. As atitudes de Don Juan quase levam a loucura Leporelo, seu criado. Ele tem cenas e falas divertidíssimas, sempre criticando o patrão, ao mesmo tempo em que tenta não desagradá-lo.

Apesar de ter um caráter desprezível, o personagem Don Juan também é muito interessante. Mesmo que sua hipocrisia cresça durante a peça, ele ainda guarda um pouco de sua honra, como quando defende Don Carlos, irmão de Elvira, de um ataque covarde. Além disso, ele é muito engraçado, um autêntico 1-7-1.

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Ilustração para uma edição francesa da peça.

Censura

Através do protagonista de sua obra, Molière (cujo nome verdadeiro era Jean-Baptiste Poquelin), satiriza os nobres franceses e os clérigos da Igreja Católica, que não gostaram nada da peça. Don Juan faz questão de afirmar diversas vezes que não teme nem o céu e nem o inferno e, numa das passagens mais polêmicas, se nega a dar esmola a um mendigo muito religioso, só porque ele não atendera o seu pedido de dizer uma blasfêmia.

Apesar de o final da peça ser adequado à moral católica, Molière foi obrigado pela Igreja a cortar as cenas mais ousadas (como a do mendigo, por exemplo) depois das primeiras apresentações públicas. Não demorou pra que a peça saísse de cartaz, e ela nunca mais foi encenada enquanto o autor estava vivo. A versão integral de Don Juan (com a inclusão das cenas cortadas) só seria editada em 1683, em Amsterdã, dez anos depois da morte de Molière.

É essa versão original que a Hedra publicou aqui no Brasil em 2006, dentro da ótima coleção de livros de bolso da editora. A tradução da professora Celina Diaféria é excelente e muito acessível, repleta de notas explicativas e de indicações cênicas. Se você nunca leu peças de teatro clássicas e não sabia por onde começar, Don Juan ou O convidado de pedra é uma ótima pedida.

AVALIAÇÃO

5-estrelas-2

Imagens extraídas da internet.

4 comentários em “Resenha | Don Juan, de Molière

  1. Oi, Lucas. Tudo bem? Muito bom seu artigo, gostei bastante. Precisamos lembrar de Don Juan, mas “O convidado de pedra” é de Tirso de Molina, e de Molière é “Le festin de Pierre”. Vamos conversar mais. Abraços.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oi, Marina! Tudo bem sim, e você? Eu li “Don Juan” na edição da Hedra, e a tradutora optou por verter o título alternativo “Le Festin de Pierre” por “O Convidado de Pedra” — mesmo nome da peça atribuída a Tirso de Molina. Um abraço e obrigado pelo comentário!

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