O planeta dos macacos
Autor: Pierre Boulle
Tradução: André Telles
Editora: Aleph
Páginas: 216
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A trama de O planeta dos macacos é uma das mais famosas da ficção científica: no futuro, astronautas da Terra chegam a um planeta dominado por macacos evoluídos, onde seres humanos levam uma vida selvagem e são tratados como animais. A fama da história se deve principalmente ao filme de 1968 e seus inúmeros derivados. Entretanto, pouca gente sabe que o filme é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito pelo francês Pierre Boulle e que foi publicado em 1963.
O protagonista da obra é o jornalista Ulysse Mérou (numa alusão a Ulisses, ou Odisseu, herói da Odisseia, de Homero). No ano de 2.500, ele embarca numa viagem espacial ao lado do professor Antelle, do estudante Arthur Levaine e do chimpanzé Hector em direção ao sistema da estrela Betelgeuse. A jornada dura séculos, mas, graças às leis da relatividade, eles envelhecem apenas dois anos.
Os viajantes aterrissam num planeta muito semelhante à Terra e o batizam de Soror. É lá (eles descobrem tarde demais) que vivem os macacos avançados e inteligentes que subjugaram a raça humana. Ulysse acaba sendo capturado por gorilas caçadores e é levado para um laboratório, onde os seres humanos são utilizados em experimentos científicos. No cativeiro, o jornalista entra em contato com os cientistas Zira, Cornelius e Doutor Zeius (que são recorrentes nos filmes) e, ao mesmo tempo que tenta entender o funcionamento daquele estranho mundo, ele se esforça para provar que é mais inteligente do que os humanos nativos do planeta.

Diferenças entre livro e filme
Mesmo quem já assistiu várias vezes ao filme de 1968 vai se surpreender com alguns elementos presentes no texto original. Se no filme a aparência dos macacos apenas remete aos símios da Terra, no livro os habitantes de Soror são literalmente chimpanzés, babuínos e gorilas. Além disso, eles não moram em cavernas e nem andam a cavalo; os macacos vivem em cidades iguais às nossas, se vestem como homens e mulheres do século XX, pilotam carros e aviões, realizam congressos, fazem experimentos neurológicos e assim por diante. Em vários momentos, fica claro que Boulle está fazendo uma sátira a vários costumes da humanidade, e a descrição de algumas cenas cria imagens tão bizarras na nossa imaginação que o tom irônico do autor ganha ainda mais força.
O livro (escrito por um francês) não apresenta o tom pacifista e o temor pela ameaça nuclear presentes no filme (produzido nos Estados Unidos, em plena Guerra Fria). Pierre Boulle prefere mirar sua crítica contra algumas características da raça humana, que são refletidas em costumes da população símia de Soror. Entre muitos alvos, o autor ataca a presunção de homens e mulheres, que se consideram a “obra-prima de uma evolução milenar” mas se adaptam à mediocridade com incrível facilidade.
Imaginação e ingenuidade
Apesar desse tom crítico, O planeta dos macacos é, por vezes, ingênuo demais. No começo do livro somos apresentados ao casal Jynn e Phyllis, que viaja em lua de mel numa nave pelos confins do universo. Em determinado momento, eles encontram uma garrafa (isso mesmo, uma garrafa) vagando pelo espaço. Ao pegarem o objeto, eles percebem que há uma carta em seu interior; nela está justamente o relato de Ulysse sobre sua passagem por Soror. É então que nós, leitores, entramos em contato, junto com Jynn e Phyllis, com as desventuras do jornalista. Essa liberdade imaginativa dá um gosto anacrônico ao livro, que eu, particularmente até gosto, mas que pode incomodar leitores que exigem rigor científico.
Como O planeta dos macacos foi escrito no início da corrida espacial dá pra perdoar alguns exageros de Pierre Boulle. Entretanto, o próprio autor reconhece numa entrevista (presente como extra no livro) que O planeta dos macacos não é sua melhor obra e que gostaria de ter trabalhado um pouco mais no livro. Mas uma coisa não dá pra negar: a ideia original de Boulle foi excepcional e influencia a cultura pop até hoje.

Edição caprichada
Além da entrevista com Boulle, esta edição da Editora Aleph traz como conteúdo complementar um ensaio sobre o autor publicado pela BBC e um posfácio de Bráulio Tavares, um dos maiores especialistas brasileiros em ficção científica. Eu estava na dúvida entre cotar o livro como “bom” ou muito bom”, mas esses extras, somados à edição caprichada da Aleph garantem a cotação “muito bom”.
Ah, e apesar da Aleph divulgar que o final do livro é mais impactante do que o desfecho do filme de 1968 (e realmente é surpreendente), eu preciso dizer que a cena de Charlton Heston na praia continua imbatível.
AVALIAÇÃO
→ Imagens extraídas da internet.
Um comentário em “Resenha | O planeta dos macacos, de Pierre Boulle”