Blues
Autor: Robert Crumb
Tradução: Daniel Galera
Editora: Conrad
Páginas: 103
O norte-americano Robert Crumb é um dos cartunistas mais influentes da história. Isso, porém, não o impede de afirmar (no posfácio desse livro) que a música é a mais prazerosa das artes. Em Blues, Crumb ilustra sua paixão pela música “antiga” e manifesta seu desprezo pela música “moderna”, que, em sua opinião, é toda aquela produzida após 1930!
Charley Patton, Jimi Hendrix, Janis Joplin…
Blues é uma coletânea que apresenta diversos trabalhos de Crumb relacionados ao universo musical. Há desde narrativas sobre a vida de músicos como Charley Patton e Jelly Roll Morton (que, na minha opinião, são os pontos altos do livro), até quadrinhos irônicos que ilustram as imagens que vem à sua cabeça quando ele ouve sucessos dos anos 60, como Purple Haze, de Jimi Hendrix, e My guy, da cantora Mary Wells. Também são apresentados pôsteres e capas de discos ilustrados por Crumb. Sabia que a clássica capa de Cheap Thrills, lançado em 1968 por Janis Joplin ao lado da banda Big Brother & The Holding Company, foi criada por ele?

Outro destaque do livro é a história É a vida. Nela, Crumb acompanha o fictício bluesman Tommy Grady, desde sua vida errática e obscura, até a descoberta de suas gravações por colecionadores de raridades musicais, décadas depois de sua morte.

Rústicos e desajustados, mas autênticos
Os traços com muito contraste em preto e branco de Crumb são sensacionais (apenas a seção das capas de discos é colorida), mas não são para todos os gostos… O autor não pega leve em seus desenhos, apresentando bastante violência e conteúdo sexual (elementos sempre presentes tanto no blues quanto na arte de Crumb). Além disso, algumas ilustrações podem ser vistas por alguns leitores como misóginas e racistas. Creio que o leitor tem essa visão devido aos personagens que Crumb escolhe apresentar: homens e mulheres rústicos, violentos, supersticiosos, ciumentos e desajustados, mas autênticos.
No fim das contas, é essa autenticidade que atrai o autor nas músicas antigas, gravadas até 1930. Segundo ele, os artistas deixaram de ser autênticos e espontâneos quando surgiu a indústria musical, com seus empresários e publicitários, sempre correndo atrás de novidades para seduzir o público adolescente, seja no jazz, no rock ou no pop.
Robert Crumb sempre olhou com desconfiança para o mainstream e não pensou duas vezes ao matar seu personagem mais famoso, Fritz, The Cat, no auge de sua popularidade, em 1972. É essa mesma autenticidade que o desenhista busca quando se apresenta com sua banda, R. Crumb and his Cheap Suit Serenaders (ou “R. Crumb e seus seresteiros com ternos baratos”), que toca músicas “antigas” e “sem frescura”.

Quadrinhos para adultos
Ao final de Blues, o leitor pode ficar um pouco cansado pela insistência com que Crumb defende a superioridade da “música antiga” sobre a música moderna. Entretanto, lendo o posfácio escrito por ele, é possível concluir que o mau humor do autor/personagem presente no livro foi exagerado para ganhar em humor. No texto que encerra Blues, R. Crumb apresenta uma defesa mais racional e menos neurótica do seu estilo musical preferido.
Por outro lado, a introdução, escrita por Rosane Pavam e intitulada “Faróis de eternidade”, é bem exagerada, ao chamar o autor por nomes pomposos como “eterno romancista da América” e “o pintor das estações”, rótulos que Crumb receberia com ironia e sarcasmo.
Enfim, Blues é um livro em quadrinhos para adultos, embora não seja ideal para leitores caretas. Mas, provavelmente, vai agradar você que é fã de contracultura, jazz e blues.
AVALIAÇÃO
→ Imagens extraídas da internet.