Crítica | O menino que descobriu o vento

O menino que descobriu o vento conta a história real e inspiradora de William Kamkwamba. Ainda adolescente, ele conseguiu combater a seca e a fome em sua comunidade usando duas armas muito poderosas: a persistência e a educação.

Uma biblioteca e um moinho

William nasceu no Maláui, um dos países mais pobres da África, e precisou abandonar a escola quando uma terrível estiagem atingiu a região onde ele vivia com os pais, que eram agricultores. A população local não tinha como plantar e, completamente abandonada pelo governo, não tinha o que comer. Havia apenas duas opções: partir ou morrer de fome. Esse foi o destino de muitas pessoas.

Mas William teve uma ideia que poderia dar certo: utilizar a energia eólica gerada por um moinho para alimentar uma bomba que fosse capaz de extrair água do solo. Assim as plantações poderiam ser irrigadas sem depender das chuvas. Como ele pensou nisso? Frequentando escondido a biblioteca da escola, onde ele estava proibido de entrar por não ter pago os valores cobrados pela instituição.

Além das dificuldades para adquirir o conhecimento teórico, o garoto ainda precisaria encarar outros empecilhos, como a falta de peças para construir o moinho e, principalmente, a falta de incentivo das pessoas ao seu redor, que tinham pouca instrução e estavam desesperadas pela fome.

Mas William sabia que era possível.

A família Kamkwamba no filme (da esq. para a dir.): William (Maxwell Simba), sua irmã Annie (Lily Banda), o pai, Trywell (Chiwetel Ejiofor) e a mãe, Agnes (Aïssa Maïga).

Uma belíssima estreia

O menino que descobriu o vento foi o primeiro filme escrito e dirigido pelo ator Chiwetel Ejiofor, que também interpreta o pai de William, Trywell Kamkwamba. E foi uma belíssima estreia.

O filme conta uma história de superação e emociona sem ser piegas. Outros diretores poderiam apelar para o sentimentalismo barato, mas Ejiofor não cai nesse golpe baixo. As atuações são sóbrias e sem exageros, com destaque para Maxwell Simba, que transmite inteligência, fragilidade e coragem no papel do protagonista, e Aïssa Maïga, que interpreta sua mãe, Agnes, uma mulher com muita força e resiliência.

Chiwetel Ejiofor (que nasceu na Inglaterra, mas é filho de nigerianos) também impressiona na transformação de seu personagem, à medida que ele vê todas as suas crenças ruírem frente à miséria que se abate sobre sua família.

Première de “O menino que descobriu o vento” no Festival de Berlim 2019. Da esq. para a dir.: William Kamkwamba, Chiwetel Ejiofor, Aïssa Maïga e Maxwell Simba.

À espera de oportunidades

Além da fome e da pobreza, O menino que descobriu o vento trata de vários temas urgentes, não só na África como em todo o planeta: as mudanças climáticas, o descaso dos políticos, as migrações, a solidariedade e, principalmente, a importância da educação. Imagine quantos garotos como William Kamkwamba existem por aí esperando apenas professores, livros e oportunidades para colocarem seus conhecimentos em prática e tornarem o mundo um lugar melhor.

A Netflix merece muitos elogios por investir numa história africana, que foi filmada no próprio Maláui e tem muitas cenas faladas no idioma local. Torço pra que a empresa de streaming continue apostando nessa diversidade de culturas em seus filmes e séries originais.

O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO
Onde assistir: Netflix
Avaliação: 5-estrelas-otimo / Ótimo

PS: O menino que descobriu o vento é uma adaptação do livro de mesmo nome, no qual o próprio William Kamkwamba, em parceria com o jornalista Bryan Mealer, conta sua história. O livro foi lançado aqui no Brasil pela Objetiva e você pode saber mais sobre ele clicando na capa ao lado.

4 comentários em “Crítica | O menino que descobriu o vento

  1. Maravilhoso filme, acabei de assistir. Realmente, o filme é muito bem escrito e mostra inúmeros problemas que geram a fome, na minha opiniao, o principal é a monocultura de tabaco. parabéns aos atores, diretores e a netflix. FILMAÇO! NOTA 10

    Curtido por 1 pessoa

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