Resenha | ‘O Clube dos Anjos’, de Luis Fernando Verissimo

Livro conta a história de amigos gourmets que são assassinados nos jantares que realizam

Devido ao lançamento do documentário “Verissimo”, que chegou aos cinemas no início de maio, a Companhia das Letras me enviou no mês passado dois livros de Luis Fernando Verissimo: “O Clube dos Anjos” e “Veríssimas”. Hoje eu escrevo sobre o primeiro; o segundo será tema do post de sexta-feira.

“O Clube dos Anjos” conta a história de dez amigos que se reúnem há mais de vinte anos para a realização de jantares caprichados, onde saboreiam o melhor da alta gastronomia. Porém, o entusiasmo com esses encontros começou a diminuir depois da morte de Ramos, um dos líderes do grupo.

É aí que entra em cena um homem misterioso chamado Lucídio. Ele é um cozinheiro de mão cheia e parece saber qual é o prato preferido de cada integrante do clube. Lucídio se torna o responsável pelo cardápio dos jantares e prepara refeições maravilhosas. O problema é que, um a um, todos os amigos começam a morrer envenenados.

As mortes, porém, não impedem que os jantares continuem acontecendo.

“O Clube dos Anjos” tem elementos de histórias policiais, embora não seja exatamente uma. Desde o início, sabemos que todos os membros do clube foram mortos e que Daniel, o narrador, é o único sobrevivente. Também não é segredo que Lucídio é o assassino. A motivação dos crimes é devidamente explicada, mas o mistério do livro não é esse.

A grande questão que percorre a história é por que os amigos não interrompem a realização dos jantares, mesmo sabendo que um deles perderá a vida a cada novo encontro.

Um dos motivos é o apetite insaciável que eles possuem. Além disso, são personagens egoístas e desprezíveis — a certa altura, são definidos como “um bando de fracassados e inúteis que nunca fizeram nada na vida a não ser se empanturrar e desgraçar a vida dos outros”.

Mas há um terceiro motivo: a iminência da morte faz com que eles procurem — e às vezes encontrem — algum significado para as suas vidas. Isso faz com que eles se sintam bem em seus últimos instantes.

Dessa maneira, o livro se aproxima do tema da eutanásia. Os personagens escolhem morrer próximos dos amigos e fazendo aquilo que mais amam. No caso, comer.

Obviamente, é preciso deixar a verossimilhança de lado para mergulhar na leitura, que é bastante rápida. Mas o absurdo da situação gera passagens muito engraçadas, embora este não seja um livro que faça rolar de rir. O texto de Verissimo é bem irônico, a começar pelo título do romance: o nome verdadeiro do clube é “Clube do Picadinho” (em referência ao prato preferido dos amigos durante a juventude) e, de anjos, os personagens não têm nada.

“O Clube dos Anjos” foi publicado em 1998, dentro da coleção “Plenos Prazeres”, com livros que tinham os sete pecados capitais como tema — o pecado aqui, é lógico, é a gula. Cada livro é individual e não tem ligação com os outros títulos da coleção.

O livro foi transformado em filme em 2020, com direção de Angelo Defanti, o mesmo diretor do documentário “Verissimo”.