Se tivessem acesso à internet que existe hoje, Bob e Charlotte não se encontrariam
No fim de semana, revi “Encontros e Desencontros”, na Netflix. Pra quem nunca assistiu, o filme — escrito e dirigido por Sofia Coppola — acompanha dois personagens solitários que se conhecem em Tóquio. São eles: o ator Bob Harris (Bill Murray), que foi ao Japão para gravar uma propaganda de uísque, e a jovem Charlotte (Scarlett Johansson), que está acompanhando o marido fotógrafo.
O filme saiu em 2003 e não faz nenhuma menção à internet. Os personagens possuem celulares básicos e usam aparelhos de fax com desenvoltura. É engraçado pensar que, se já existisse a internet que conhecemos hoje, talvez Bob e Charlotte nunca tivessem se encontrado.
Com smartphones, ambos poderiam combater a insônia causada pelo jet lag maratonando séries ou vídeos do TikTok. No bar ou no elevador, poderiam enfrentar o tédio e a solidão usando as redes sociais, ao invés de apelarem para a velha arte de puxar conversa com desconhecidos.
Bob poderia amenizar a saudade dos filhos interagindo com eles em chamadas de vídeo. Usando o YouTube, ele saberia que o talk show para o qual foi convidado seria uma roubada, recusaria o convite e diminuiria sua estadia no Japão.
Charlotte conversaria mais facilmente com as amigas nos Estados Unidos se usasse aplicativos de bate-papo. Seria mais simples acompanhar o trabalho do marido, aquele babaca, à distância.
Mas, felizmente, não existiam smartphones em 2003. Por isso, Bob e Charlotte se viram e se aproximaram num país distante, com um idioma diferente e onde não conheciam quase ninguém.
Não fica claro se o que eles sentem é amizade ou amor, mas isso não é um problema. Afinal, a amizade é um tipo de amor.
Algumas representações dos costumes japoneses exageram na caricatura, mas, para mim, isso também não chega a ser um problema. Por favor, não cancelem o filme.
Mais de 20 anos depois, “Encontros e Desencontros” continua um filme lindo, muito bem dirigido e com atuações primorosas.
Ótimo filme!
e fica a dica para sua frase “Por favor, não cancelem o filme.”
É melhor viver acreditando que cancelamento não existe
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Com certeza, foi apenas um comentário irônico
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