Resenha | Assassinatos na rua Morgue, de Edgar Allan Poe

No começo de 2017 a Darkside Books lançou uma nova coleção batizada de Medo clássico, e o primeiro volume foi uma luxuosa coletânea com textos de Edgar Allan Poe (1809-1849). O livro fez com que o autor norte-americano fosse descoberto por novos leitores e muitos deles se surpreenderam ao saber que Poe, além de ter sido um mestre dos contos de horror, também foi um dos precursores das histórias policiais. Por isso, a partir de hoje e nas próximas duas quartas-feiras, vou resenhar os três contos (Assassinatos na rua Morgue, de 1841, O mistério de Marie Rogêt, de 1842, e A carta roubada, de 1844) protagonizados pelo genial personagem C. Auguste Dupin, que foi uma das inspirações para detetives famosos como Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Eu não possuo a edição da Darkside (que contém a “Trilogia Dupin”) e, por isso, vou me basear em outras coletâneas de Poe que fazem parte da minha coleção.

Assassinatos-na-rua-morgueAssassinatos na rua Morgue (presente em Assassinatos na rua Morgue e outras histórias)
Autor: Edgar Allan Poe
Tradução: William Lagos
Editora: L&PM (Coleção L&PM Pocket)
Páginas: 59 (conto) e 160 (livro)
Compre pela Amazon:
amzn.to/2uGAZAD

É curioso que Assassinatos na rua Morgue seja considerada uma das primeiras “histórias de detetive”, pelo simples fato de que nela não há um detetive solucionando crimes. Mas a influência dela nos contos e romances policiais que surgiram depois é inegável.

C. Auguste Dupin, o protagonista de Edgar Allan Poe, não é um detetive ou policial; ele é o herdeiro de uma família francesa muito tradicional, mas que acabou falida. Suas habilidades de análise e de observação são incomparáveis, e ele gosta de solucionar mistérios principalmente para poder exibi-las. Como tantos outros gênios (reais ou fictícios), Dupin pode ser considerado excêntrico em alguns gostos e comportamentos. Já deu pra perceber o quanto ele tem em comum com Sherlock Holmes, não é?

As semelhanças não param por aí: se as aventuras de Holmes tem como narrador seu amigo Watson, as histórias de Dupin são contadas por um personagem sem nome, que dividira uma casa com ele em Paris durante alguns meses.

Mas agora vamos ao conto.

Um crime brutal

Assassinatos na rua Morgue começa com uma longa explicação do narrador sobre as características de uma mente analítica. É meio chato, mas, se você for persistente, não vai se arrepender. Essa introdução serve para que o leitor “se prepare” para C. Auguste Dupin e entenda melhor seus raciocínios. As habilidades do francês são tão impressionantes que, numa dada situação, ele parece ler a mente do amigo e adivinha o que ele estava pensando – apenas analisando os gestos do narrador e combinando-os a eventos e conversas recentes!

Os assassinatos que dão título ao conto são as mortes brutais da Madame L’Espanaye e de sua filha Camille. Elas foram assassinadas num dos quartos da casa delas e a cena do crime é aterradora: o cômodo está extremante bagunçado e nele se encontram, entre outras coisas, uma navalha suja de sangue e uma bolsa cheia de ouro; o corpo da mãe foi decapitado e jogado pela janela; o corpo da filha estava muito machucado e foi enfiado, de ponta cabeça, no espaço estreito da chaminé.

Os vizinhos que ouviram os gritos das vítimas, escutaram também outras duas vozes: uma falava em francês e, a outra, um idioma indecifrável. Os vizinhos invadiram a casa e não encontraram ninguém. O assassino já tinha deixado o quarto, que estava com as portas e janelas trancadas por dentro.

A polícia acaba prendendo uma das testemunhas, mas Dupin está convencido que o verdadeiro assassino ainda não foi descoberto. Por isso, mesmo sem ser um detetive, ele consegue uma autorização para visitar a cena do crime e inicia sua própria investigação.

Paris-Século-XIX
O cenário do conto: Paris no século XIX.

Se aconteceu, não é impossível

Além de sua capacidade de observação, C. Auguste Dupin parte da ideia de que se é evidente que um fato impossível aconteceu, ele simplesmente não era impossível. Eu não posso contar muito pra não dar spoilers, mas me refiro à fuga do criminoso do aposento trancado por dentro. A polícia não liga muito para isso e prende a pessoa que pareceria ter um motivo para cometer o crime. Dupin, por outro lado, praticamente despreza o motivo dos assassinatos e procura entender como ele se deu: depois de agir, o criminoso saiu, de alguma forma, de um quarto trancado por dentro. É por aí que o francês inicia sua análise.

Um ponto interessante é que neste conto Edgar Allan Poe abre mão de qualquer possibilidade sobrenatural. C. Auguste Dupin e seu amigo chegam inclusive a conversar sobre como nenhum dos dois acredita em espíritos. Em Assassinatos na rua Morgue o único horror existente é o do mundo material.

Poe expõe de forma brilhante a linha de raciocínio do protagonista e só “trapaceia” um pouco com o leitor ao apresentar no final algumas pistas que Dupin já conhecia, mas que não tinham aparecido anteriormente no texto.

A solução do crime é surpreendente, embora, num primeiro momento possa parecer um pouco exagerada. Mas a escrita de Edgar Allan Poe e a construção do texto são tão intrigantes que o leitor acaba convencido. No fim das contas, o culpado pelo crime é menos importante para o autor do que o processo percorrido por Dupin até encontrá-lo. Se você tem interesse por histórias policiais, precisa ler esse conto e saber como tudo começou.

E não se esqueça: na quarta-feira que vem tem a resenha de O mistério de Marie Rogêt.

AVALIAÇÃO

5-estrelas-2

Imagens extraídas da internet.

 

 

 

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