Resenha | O vilarejo, de Raphael Montes

Capa-O-vilarejoO vilarejo
Autor:
Raphael Montes
Editora:
Suma de letras
Páginas:
96
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Eu tentei. Li O vilarejo duas vezes, mas não rolou… O livro de contos de terror do carioca Raphael Montes foi lançado em 2015 e conquistou verdadeiros adoradores, entretanto, me pareceu muito repetitivo. E quando um livro de apenas 96 páginas cansa pela repetição, ele deve ter algum problema…

Tradução do cimério

Logo no prefácio, Raphael Montes lança mão de um conhecido artifício para aumentar o mistério em torno da obra: ele se apresenta não como o autor do livro, mas como seu tradutor. Segundo ele, os textos que compõe O vilarejo teriam sido escritos em três cadernos por uma certa Elfrida Pimminstofer, em cimério (“uma língua morta do ramo botno-úgrico”). Montes conta que tentou obter mais informações sobre os escritos e sua autora, mas não obteve êxito nem com a herdeira de Elfrida, nem com o único estudioso de cimério do mundo (um professor italiano chamado Uzi-Truzii).

Curioso a respeito do conteúdo daqueles textos, Montes decidiu traduzi-los ele próprio. Pra isso, precisou apenas de um dicionário e de algumas dicas idiomáticas do professor italiano. Sim, simples assim, mesmo se tratando de uma língua morta do ramo botno-úgrico que tinha apenas um estudioso no mundo. É, eu também achei meio exagerado… Os sete contos de O vilarejo seriam, portanto, os textos do caderno de Elfrida Pimminstofer.

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O escritor Raphael Montes, autor de “O vilarejo”.

Lugarzinho infernal

O vilarejo do título fica numa região fria do leste europeu. No primeiro conto, Banquete para Anatole, ficamos sabendo que o lugar ficou isolado depois de uma guerra, e que os poucos habitantes que sobreviveram sofrem com a fome e com as baixas temperaturas. Essa primeira narrativa prende a atenção do leitor e seu desfecho é surpreendente.

As histórias seguintes voltam ao passado do vilarejo e mostram que boa parte da população local é formada por pessoas de péssima índole. Cada um dos sete contos é relacionado a um dos sete pecados capitais, e aos demônios “responsáveis” por eles: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba).

A ideia é excelente. O problema é que o choque que os primeiros contos causam no leitor logo desaparecem, quando a gente percebe que todos eles seguem um esquema praticamente idêntico: um personagem, que aparentemente é bom, se revela uma pessoa terrível e comete atrocidades contra seus vizinhos ou parentes. Todos os contos giram em torno disso.

E as repetições não param por aí: quatro das sete narrativas fazem alguma menção ao canibalismo. Não é de se admirar que o livro seguinte de Raphael Montes (Jantar secreto, de 2016) tenha a ingestão de carne humana como mote principal.

No quesito terror, a maior parte de O vilarejo não assusta, mas causa repulsa. As barbaridades sangrentas cometidas ao longo das páginas estão mais próximas de filmes como O albergue e as sequências intermináveis de Jogos Mortais, do que de obras como A profecia, O iluminado ou O exorcista. Tem quem goste, mas não é meu caso.

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Ilustração de Marcelo Damm presente no livro.

Comparação exagerada

Apesar disso, a leitura de O vilarejo é rápida e tem bons momentos, como o conto O porquinho de porcelana da sra. Branka. As narrativas podem ser lidas independentemente, mas estão interligadas. Por exemplo: num conto o personagem Krieger, que não tem as pernas, é citado; em outro, ficamos sabendo como ele ficou aleijado. Como todos os outros livros de Raphael Montes (além deste e de Jantar Secreto, ele também escreveu os elogiados Suicidas, de 2012, e Dias perfeitos, de 2014), O vilarejo teve seus direitos vendidos para o cinema.

Ainda assim, no fim da leitura, fica a impressão de que O vilarejo não alcançou todo o seu potencial. É pouco para um autor que, na capa do livro, é comparado pela atriz Fernanda Torres aos Irmãos Grimm e a Stephen King.

AVALIAÇÃO

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Imagens extraídas da internet.

 

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